Monday, November 17, 2008

2 terceiras Pessoas

hoje eu acordei e lembrei que você em breve vai embora. em breve esses quarteirões que nos separam serão um céu inteiro ou punhado de 50 kg de terra e alguns milímetros de madeira. enquanto essa fina brecha de janela deixa o ar úmido e frio da chuva que caiu há pouco bater no meu peito descamisado, e fico aqui pensando que agora são um quilômetro ou dois que nos separam, e que amanhã de manhã serão apenas uns metros, e que em alguns segundos ou minutos do dia nossa distância será resumida à camada externa que separa os meus átomos dos seus. e lembro a cada sílaba que escrevo nesse papel que essas coisas são temporárias, e que daqui a pouco isso será muito ma... e eu entendo a sua mágoa e dividimos a saudade que passou dos tempos que éramos nós que dizíamos "agora é minha vez". falo de lembrar... e penso no dia que só que terei de você imagens esparsas de uns momentos bons e ruins, de um bolo que deixei cair na grama, de uma boca sangrando o que nem sei mais, de sons aleatórios de você resmungando uma canção ou de eu te gritando para sair de perto de mim, ou eu te mandando calar a...

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as nuvens se formam e chovem em cima de mim e me pego falando em voz alta, achando que você estará atrás da porta esperando eu te dizer para sair de uma vez. o quarto está vazio, e a televisão está ligada para ninguém assistir. as coisas estão organizadas finalmente após milênios, só para quando você voltar de uma vez novamente, e eu espero que ainda não seja a última, e que ainda hajam muitas e muitas, mesmo sabendo que um dia só o que vai voltar são as más impressões, meu nome que ouvirei sem ninguém ter me chamado, o telefone tocando sem... eu me pego assim com os braços doendo e a cabeça fumegando cansaço e dor, e encaro o teto vezes o suficiente para me certificar de que ele será o mesmo pelas próximas horas. começo a suar, ainda que esteja, como disse, frio, e que as janelas estejam sempre abertas, e vou tirar comida da geladeira para fechá-la logo em seguida, afim de ter a sensação de no momento que eu bato a porta dela, será você virando a chave e trancando a rua do lado de fora. aumento o volume do aparelho de som, e começo a cantar distraidamente, ainda que em momento algum eu realmente esqueça totalmente de mim ou de você. eu realmente espero a cada instante tomar um susto com você já trocando de roupa e rindo da minha cara enquanto banco a retardada me fazendo de Janis... só que dessa vez sem sustos, ok?

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e eu te digo bom dia, e você está se encaminhando para o outro lado da sala, com alguma cara que me é desconhecida e planejo te perguntar o que é mas desfaço a pergunta. a semana se passa e a sua cara se repete e as perguntas continuam se desfazendo. eu te pego pela mão e sorrio, e lembro que você sequer veio hoje. dou de cara com os braços vazios à sua porta e digo que não vamos mais matar aula para sua mãe, e que sinto muito, sem saber o que sentir. porém, parece que foi você que tinha aberto, e foi você que disse "eu também". foi para o seu quarto que fomos assistir desenho animado, e a sua mãe só bateu a porta trazendo pipoca e guaraná. e na hora da saída te pergunto dele, e você diz que jamais, e juntas repetimos, "jamais", conforme nós vestimos nossos casacos de novo, e você me promete guardar segredo, e eu prometo e guardo. e nos juramos abraços que saberíamos negar no futuro, ainda que você tenha se saído muito melhor que eu quanto a...


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o telefone quer tocar, e eu sei. eu penso em ligar para ela, ainda que sejam anos sem notícias. os anos de silêncio que eu insisto em esconder aqui. de quando guardávamos juntas o que temíamos e cavávamos, e enterrávamos juntas nos nossos quintais o que tínhamos de mágoa e desespero. agora me é impossível medir o quê e o quanto nos separa. eu grito para dentro tão rouca o que quero dizer pra ela, que me arrependia de ter implodido tantas pontes e cartas, e que se você se for eu só terei a ela, e às vezes acho que ela deve ter me esquecido, embora saiba que isso seja impossível. por mais que eu merecesse. e eu acho que sempre vou precisar del... e você não chega e eu começo a te odiar. e à essa altura eu realmente já estarei te odiando. ainda mais do que eu o faço agora e muito menos do que você mereceria. e os telefones passam as próximas semanas e meses sem tocar, e eu enfim já tinha desistido.


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queria que você estivesse aqui. ele nunca.


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eu acordo nessa manhã lembrando que daqui a pouco você não estará, e sinto uma saudade com gosto de desespero. um desejo com angústia e pressa de aproveitar e estar aí contigo e de ter perdoados, em um abraço, de antemão, os pecados que eu sei que lhe vou cometer nos próximos anos. sinto que quando te ver eu aproveitarei de forma fútil, inconseqüente e medrosa o tempo que tivermos, e vou lhe dizer "não" vezes demais. e agora-agora? o que posso querer é que você esteja dentro de mim até a consciência de quem eu sou se apague completamente. eu acho.


e, e eu acho que acho que é só saudade. e espero mesmo que seja só.

Monday, November 10, 2008

eu acho

na verdade eu acho que poesia é uma coisa meio espiritual mesmo. uma questão de não estar aqui, mas lá, ainda que se esteja aqui, factualmente falando. comungar consigo mesmo e assumir que o que se está contemplando ou almejando atingir não é nada em específico... à não ser a paz que se sente quando percebemos que não é preciso dizer nada.

Tuesday, November 04, 2008

Que cada vez que acordo eu juro eu posso jurar
Que um dia faz de mim o que quer e eu quero
Que desesperei e com amor teu vício amei
Que luz e luz são vida e eu e você é sorte

Que bom era o que já passou eu já sabia estar passando
Que pesei às minhas costas menos do que pesaram às suas
Que nuvem cai quando quero um céu distante de quedas
Que dia faz que eu soube um sim sem saber o que então fazer

Que toda vez que eu durmo eu posso prometo uma última vez
Que o dia fez de mim o que quis e eu nem
Que exasperei e sem esperar eu te esperei
Que luz e luz apagam com o eu e você