Friday, August 18, 2006

Bobices

Eu preciso muito dizer...
Que sou escravo de tantos impulsos. Alguns animais, alguns racionais, outros um tanto o contrário. Eu preciso dizer que percebo o sabor dos meus próprios lábios secando. Que tenho passado a lingua no céu da minha boca que a minha saliva tem secado rápido demais. Meu suor fede mais que antes. E eu suo o meu suor barato de padaria a qualquer instante.
Tenho até pressentido milagres. Banalidades que atravessam a minha noite com um toco de vela em mãos. A cera queima a pele. A cera derrete. A vela é acesa. É noite, a luz faltou. Quer saber? A luz acabou de vez. Quando voltou eu vi um outro milagre acontecendo: estava de pé outra vez.
Eu preciso muito dizer também que ainda preciso crer naquilo que canto. Minha voz escoa, escorre, ecoa entre gotas e memórias (talvez você perceba). Fico rouco sempre, fico leucêmico de vez em quando. Mas tudo volta a cada canção. É a canção que eu quero lhe dar. É a canção que preciso dizer:
Que eu tenho tanto a doar... o meu sangue: nem tinto, nem branco, que é o mesmo que o seu. Temos o mesmo sabor amargo. Bebemos com as duas mãos da vida crua e mal fervida. E repetimos a dose. A culpa é de ninguém. Nos saboreamos ainda.

Tuesday, August 01, 2006

O Sol

Um dia nasceu por trás da janela do meu quarto
E eu esqueci de me avisar
Que era noite ainda
Que eram noite os vestígios de mim
Tanto que escureci o meu avistar
Tanto que enegreci o peito

O sol nascia de vez em quando pelas frestas das portas
As mãos tocavam-se nuas, de pele e de medo, vida sim, vida não
A linha do horizonte, torta e incompleta
Tocada e ferida é pela pedra que jogo
(Ou o mar escuro que a envolveu e carregou me leva consigo?)

Podia ser assim
Até eu mesmo aprender a andar sobre a água
Nem importa mais, agora agora
Apaguei manchas de incêndios e abraços
Julgo, volta e meia, ser árduo e difícil o aquecer desta lareira, é verdade
Até eu lembrar que a noite é brisa e passará
O vento já vai ter batido todas as portas de casa...

Trocarei as cortinas, então
Abrirei as janelas
E na próxima manhã que eu avistar
Verei amanhecer aqui dentro também.