Saturday, January 31, 2009

q

se inexistisse a identidade?
se a necessidade do isso e aquilo fosse desespero clínico psiquiátrico tratável
ou doença erradicada
se o meu e teu fosse nem nosso nem del
fosse infinito qu'eu quero
fosse deslocado onde estou
incógnita insolúvel a certeza e beijo à três o descaso que faço de ti agora
por sermos diferentes

que restos de eternidades seriam essa noite e as quarta-feiras-não-sextas
que incontáveis, inrotuláveis canções cantaria em sacadas, quartos, terreiros
que sonhos pariria sob quantas árvores, colégios e celeiros
que misturas heterogêneas amaria num mesmo abraço
onde guardaria meu medo de amar
se amasse tudo

quê seria eu, se amasse tudo.
quem seria eu se amasse o que

Monday, January 26, 2009

10 e meia

e hoje em dia o que que é que te abriga
se está prestes a chover ácido e coca-cola do céu
você corre prum teto e abraça seus lençóis pingados de suor
ou extende as mãos pros céus e diz "sou bem maior do que pensas, viu?"?

(páre de rir pois agora sei onde está se escondendo)
fique longe de mim
dê uma sapatada no abajur
e esteja perto outra vez de vez

hoje em dia o que te abriga é a dúvida?
vou te dizer que acho que ainda preciso entender o que sinto por você, tá?
mas fique calma, terei menos certeza se às 11 e meia da manhã vai estar claro
do que disso

então, hoje em dia o que te abriga é o que enlaçamos agora?
espero que isso seja um bom sinal



Wednesday, January 14, 2009

Estava pensando hoje de manhã... pr'onde aqueles pássaros vão? E as baratas que entram pelo ralo do banheiro, onde elas dormem e escovam os dentes? Tem tanta coisa sem importância que me encho a mala às vezes, e tem tanta coisa que eu... na verdade devo me infernizar com quase tudo. Aquele pássaro verde e amarelo (estilo Copa de 70) de outro dia por exemplo. Pousou por uns segundos no varal de casa, o vi pela janela enquanto eu bebia água na pia da cozinha. Ele o tempo inteiro tentava alçar vôo para algum lugar y que ele havia esquecido qual seria, porque parecia que ele simplesmente desconhecia onde estava. Tentava, se perdia bem no meio do impulso e acabava por voltar no ponto inicial. Fazia isso repetidamente, parecia um Ioiô, aliás, ainda existem Ioiôs? As crianças devem brincar de outras coisas hoje em dia, tipo desespero e terrorismo. Mas voltando ao pássaro, acho que fiquei cerca de 20 minutos vendo até onde a sua sorte o levaria. Cheguei a pegar um banco pra sentar e observá-lo com mais conforto. Só que o telefone tocou, e eu fui atender, e, claro, desviei minha atenção para outras coisas. Só lembrei novamente de sua existência horas e horas depois, ao me deparar com a cadeira vazia no meio da cozinha, em mais uma das minhas incursões em busca de H20. Olhei novamente para o varal sem roupas, e não havia nenhum passarinho ali. Me pergunto agora se ele caiu duro e morto de tanto tentar chegar aonde queria, estando agora em processo de decomposição, ou se conseguiu. Conseguiu? Nunca sei quem conseguiu nada. As pessoas conseguem coisas também? Sempre penso em corpos putrefados, em primeiro lugar. (Depois vou dar uma olhada no quintal do vizinho e ver se acho algum cadáver.)

As baratas me intrigam. Em dias frios você quase esquece a existência delas. Pensa em caramujos pendurados na veneziana de suas janelas (e em porque diabos eles escolhem lugares tão peculiares para tirar uma naninha), pensa em assistir novela das oito (ou nove?) pra ter assunto com a trocadora de ônibus, pensa cortar as unhas, porque elas já estão engaixando entre as teclas do teclado do seu computador, pensa em continuar a escrever aquele livro sobre monges australianos e pedófilos, pensa em sair na rua e ser atropelado, enfim... Menos nelas. E elas surgem em dias de calor tão naturalmente quanto a gravidade jogará minha barriga pra baixo daqui uns anos. Da última vez eu vi, inclusive, a tampa do ralo se mover, e se fechar para trás, enquanto um desses indivíduos passava à velocidade da luz (na verdade li uma vez, usando minhas horas vagas para ler sobre baratas na enciclopédia, que se elas tivessem o tamanho de um homem correriam 150 km por hora. Weird.) Tentei contornar o problema com um tijolo, e só deus sabe como, elas passam por debaixo dele, se materializando aos poucos do lado de fora. Conclui que as baratas são paranormais, alheias à qualquer coerção social, tem poderes psiquícos, se teletransportam, voam como jatos supersônicos, emitem raios ópticos destrutivos de calor, e nunca vão desaparecer. Tá, em parte eu devo sentir um pouco de inveja.

Meu quintal tem uns esquilos também, que volta e meia entram pela famigerada janela da cozinha. De lá pegam alguma coisa do fruteiro, geralmente frutas (dã), claro, sem deixar derrubá-lo e espalhar as coisas chão a fora. Uma vez um deles veio e dormiu na minha estante de livros, e certo dia, à procura de um livro do Dostoievski, eu vi... Tá, é sacanagem, não há esquilos na droga do meu quintal, e tãopouco eles entram na minha casa, conseqüentemente (com trema mesmo). Mas eu queria de fato que isso acontecesse. Porque sei lá. Eles são rápidos, e comem nozes, e eu adoro nozes... tá, não me olha com essa cara, não tenho deficiência mental, é sério! Acho eles especiais. A beleza involuntária, a vida natural em florestas temperadas, hiperatividade compulsiva, moradia em buracos de casas de árvore, escalar dezenas de metros todos os dias, e, dependendo da espécie, a incrível capacidade de voar (pelo menos reza a lenda)! Na próxima vida eu arranjo um requerimento e nasço esquilo.

Quando acordo tenho certeza do quero e de onde estou. E os gafanhotos que vi outro dia na televisão, sendo esmagados contra a hélice do avião, daqueles E-16 ou alguma sigla do gênero, tipo antigo, adoram me vir à mente com seus três pares de pata e asas. Uma manhã de sábado, você sai de casa em busca de alimento para si e sua família quando uma máquina de metal gigante atrevessa teu caminho te trudidando em incontáveis pedaços. Bem em dias assim que eu não me sinto melhor que inferno algum nesse mundo.

Será que há fila de espera para o requerimento de esquilos?

Thursday, January 08, 2009

como dizia, eu

vou te abraçar até desconhecer quem é quem

vou gritar até meu grito soar como meu

vou esquecer até minhas memórias serem as de outros

vou cantar até minha voz ter vida própria, ter pernas e correr

vou pular até a gravidade desistir de mim

vou anoitecer até as estrelas serem quem eu quero

e vou ensejar até serem estas cadentes e pegá-las com o peito

vou suar até ver oceano

e vou lagrimar até me crer oceano

então, uma vez  lágrima, serei uns vários lampejos de esperança atmosfera à fora 

e vou voar até despertar ou adormecer de vez





Monday, January 05, 2009

a parte de mim da qual estou mais cansado é tudo

Thursday, January 01, 2009

yep

we'll make it right when there'll be nothing left to fix

começando por agora