Monday, March 30, 2009

livre como a noite que entra em forma de brisa fria pelas frestas da veneziana
livre de mim o escuro que faço conforme te vejo e te faço em mim pra mim apenas
livre assim estarei no momento que fechar do lado de fora (de mim) a cegueira que
livra dum açoite o tédio tanto amor sem causa se me amo menos o resto do mundo e fim.

Sunday, March 29, 2009

não há conceito sobre a vida forte o bastante que resista a um desastre de avião

nada a temer = nada a encarar

nada a encarar = problema de vista

falo a verdade mais por falta de vocação à mentira que por honestidade

"melhor não ter o que confessar e pecar sem referencial de erro"

ultimamente, a melhor qualidade que me descobri foi de eu não ser tão 'bom' quanto que eu achava que era.


[da serie 'eu gosto do obvio' ~perdi a conta]

Wednesday, March 18, 2009

devíamos estar nos acompanhando
mas estamos sozinhos ao mesmo tempo
no mesmo lugar

parecia que cantávamos o mesmo coro
e cantávamos para nós mesmos
coincidente e simultanea e 'solamente'

Monday, March 16, 2009

migs

ama do primeiro olhar, não da segunda mão
ama meu peito sem sangrar, sem escorrer
ao ar livre, sem gritar auto-falante que ama
a tarde que eu cheguei e soube de cara que eu queria você
queria você, mais que nua, fosse vestida de mais que simetria, de moda, de estética, de meio, de baba, de assobio e cantada, que fosse cantada como canção que devia ser, ao invés

em segundo lugar, guardo de ti a certeza do que me faz
perder a paciência, o ônibus e as horas, você me traz
cada xingo e ódio com mesmo amor que guardaria
as traições que 'cê me faria, mas nem fará
por terceiro, pera, vou lembrar bem, eu acho, ter achado, te querer com os outros quando preciso, comigo quando eu preciso, qualquer parte que precise

só me deixa um recado quando for porque necessito sim que você me seja também.

Sunday, March 15, 2009

a cura pra essa pressa que me consome
pausar logo mais um "quê" que lhe darei
em breve, juro, vamos nos salvar, por quem
daqui a pouco, espere um pouco, me dê um pouco
de tempo, do tempo descompromissado
que você despejava do bom dia ao por favor
das recepções, ao salão, no bar e no elevador
até amanhã, me esteja, me despeja em ti

a dura verdade é metade do que já foi
era que eu queria muito guardado em mim
você cai tão cedo, já as seis beija com medo
minha boca, e bate a porta, e mata a sorte
sem chover, amor, salta esse infinito
que você ensejava do bom dia ao por favor
se acalme, em alguns minutos-luz chegaremos
aonde queríamos estar - e até lá, esteja aqui.

Saturday, March 14, 2009

..

eu sou filho das coisas que odeio
eu me digo pelo adeus que lhe nego
refaço na estrela, manhã que rodeio
à órbita remota, mundo, desapego

incircunstancialmente carreguei a saudade em meus braços até o rio baldio mais próximo e lá fizemos nossos filhos com pressa e temor doído de que chovesse, de que nos vissem, de que nos abraçassem e beijassem, de que estivesse escuro em breve, de que o céu aberto se tornasse derepente os elevadores e os azulejos das segundas e quinta-feiras, e com o amor inteiro que nos restava aprendemos a nos jogar com paixão e dúvida nos esgotos e valas da vida pelas quais pássavamos frequentemente desde então e sempre, e deixamos a terra mijada por ratos e cadaverizada por baratas e latas de refrigerante entrar em nossos tênis, e nos arrependemos de nós mesmos afinal.

na tv, na internet, nas poucas rádios que restaram, nas ruas e becos e assaltos, nas boates e botecos, no jardim e colegio, na universidade, nossos estranhos, coadjuvantes, figurantes, pais, amigos, colegas, apresentadores, professores, advogados, personal-trainers, astrólogos, cientistas, psicólogos, filósofos, comentaristas esportivos, narradores, cineastas, cantores, romancistas, poetas, críticos de arte e culinária, nos ensinaram apenas uma palavra, e com ela dizemos, e suas letras desmembramos, recombinamos, resignificamos, negamos o que estava escrito antes de nós, negamos o que fora escrito antes por nós, vezes o bastante até sangrar os ossos da mão suja que buscara em desespero um sentido destro, sem tempo, nem sempre foi possível ser e estar, o tempo esgota e descobrimos só enfim que a tal única palavra era a palavra errada (pra nós).

noite a fora nos bolsos, meus amigos n'umbigo
meu amor na beira da boca, meu prazer na palma da mão
agora esqueço as verdades que me têm lido
e cedo e tarde em mim entram em comunhão
não.
no dia que eu disser o que sou
deixarei no mesmo exato instante de sê-lo
(ainda que o que eu diga não seja de fato nada:
nem eu, nem ela, nem ninguém)

aliás, desconfio que já me disseram isso

-

veja bem,
escrever é absoluta e concretamente diferente de querer escrever
verbos diferentes, semânticas diferentes, planetas diferentes
quem quer dizer acha que diz, enquanto quem diz nem está consciente daquilo

-

e que fique claro que estou bem longe de querer ditar
o verdadeiro e o falso
(como se o mundo fosse tão limitado quanto um bolo de morango - divisível pela metade)
sobre qualquer merda que eu possa proferir aqui
eu não quero nada



[dá série "eu gosto do óbvio". 'parte 02']