Monday, October 05, 2009

LUTO

~Atividades suspensas~

Wednesday, September 16, 2009

Sem Tu (Passará)

E se tu me dizer quererei esquecer
quando a verdade passar, farei-me entrever
e caso eu não esqueça, soletrarei teu nome
contra o espelho, à luz de vela, sem reza, só jura
pra São Jorge, caminhar de quatro a orla inteira
e em troca te ter: nunca mais em mim até sexta feira.

Passará a amargura, com ou sem bloco de Carnaval
e sem nota de jornal, despedirei me desse teu meu eu
sem ponte, sem drama, sem faca, sem pulso
sairei sarando um cado das feridas desse amor ateu
na missa sem crença, promessa ou pecado
e se for rancor que me jogar, fingirei que não menti
ao cantar um pouco mais alto a saudade de lado
e pra quando a verdade passar, eu fazer que nem te vi
mãos dadas comigo, fazendo d'eu a própria música agora
que eu irei de respirar pelo resto dessa vida minha afora.

Monday, September 14, 2009

Conceição

She said, that's all right, my darling
e eu pensei que era pra mim, ó
não cante alto seus pensamentos assim da vez que vem
e se vier, Cecê! Já tranca a porta!
Canta baixo a mesma canção
canta pra eu acordar no seu colo
E dormir no seu sonho
canta antes do silêncio, apressado, chegar.

Entra antes de bater
a porta, o tapete, minha blusa e meu pomo de adão
Entra antes de me fazer
bater o carro, o punho, à vida, vidro quebrado
que, nos olhos de quem olha, e, olha, olha sem mais piscar, se estilhaçaria...
Mas me perdoa o despero e faz assim:
Entra antes de mim e me espera...
na lavanderia.

Friday, August 28, 2009

No Sanatório

Já na beira da janela, conforme o sol nascia
mal saída do silêncio, a menina
meio que de prece, perguntaria
ao cão de mãos nos bolsos, tão transeunte, calado, casual:
"Ó, diga me tu, mata esta dúvida... ai fora, que vida faz?!
E também me diz, seu moço, se ela me ama pouco
Ou eu que a amo demais?"

Wednesday, August 19, 2009

Móstumo

E quando eu morrer de sono, fome, vida
Vão de novo me ser café, pão, saudade?
E quando eu correr de medo e pressa, e se me atrasar
Com que cara, com que riso vão me guardar (se é que hão)?
E quando eu brigar desatento com o tempo
Quem vai me esperar escapar da noite, com braços abertos de amor e cura, de pulsos abertos em dor e pus, que paz eu vou encontrar lá pelas 3 da manhã, que beijo vou dar antes do dia me escarrar à face, do resto do dia mal vivido, do caos conformado das outras meninas, e os abraços que rejeito, de que jeito irei redimir?
No nome de que pai, seu filho, pra que espírito, tanto vai dizer amém?
Me diz, mãe, vou eu viver...
Em nome de quem?

Tuesday, August 18, 2009

É impossível amar a mesma mulher duas vezes
so why don't you fill my sorrows
with those words from the only place you've known?
quantas mulheres me amaram
bem mais e melhor que você
vou, que sou daqueles que vão
em conversa de esquecer
a beleza de um amor
que já passou
te odeio.




1º de abril



Colagem com papel em branco e cola.
(1997-2009)

Até mais

Com quanta solidão se faz uma ponte?
De quanta despedida se fez o rio sob ela
e que parte parte de mim
e a ponte partindo, demolida pelo terremoto, leva quem?
E eu jogando eu, o sereno, a madrugada, você, quem leva?

Tuesday, August 11, 2009

Brilho Eterno

De adianto eu digo chega
pra previnir eu digo adeus
trata a cabeça, minha Nega
esquece a mim antes que seu

pois tenho pressa em verso e ira
pois me odeio de lampejo
tenho nojo e medo que fira
tanto querer o que eu desejo.

Wednesday, August 05, 2009

Nova série: Guia prático de esteriótipos de MSN.

Nosso curso é por correspondência (eletrônica). Cada lição custará 0,10 centavos por caractére. Pague agora mesmo de poeta sensivel, pegador-machão-surfista, literário, alternativo hype, baladêro, etc. Seus contatos passarão a te ler com outros olhos.

Amostra grátis:

Lição 1: Como pagar de poeta sensível e conquistar meninas românticas e/ou sensiveis. E (sempre) encalhadas. Obs: Ignore essa lição se você for uma mulher hétero. Homens realmente não vão se importar com esse tipo de coisa. Para eles essas frescuras fazem parte SÓ da genética feminina, uma trivialidade que Deus cagou no DNA delas. Pule para uma próxima sessão para resultados mais eficazes. Recomendaria a "Como pagar de menina descolada afim de um lance sem compromisso." (Também recomendaria você abrir possibilidades com meninas do mesmo sexo, visto que... eu realmente escrevi isso?)

Estética: Aposente as letras maiúsculas para SEMPRE (se necessário arranque as teclas shift e caps lock do seu teclado). Use poucas girias virtuais como "vc" e "kd", e definitivamente, não fale "axim". Apesar de não usar letras maiúsculas, comunique-se como se estivesse escrevendo uma carta para sua professora de português, de preferência. Use como "nick" palavras antônimas e adverbios de tempo e quantidade. Faça a figura de linguagem "metáfora" ser seu novo sobrenome. Misture de forma aleatória uns 3 ou quatro periodos nesses moldes, e fim. Exemplos:

"o vento sopra, a terra se aquieta, a água dos meus olhos seca no fogo do teu rosto. estamos sós."

"quase tudo me irrita, muito pouco me cativa. e acho que sou mais feliz assim."
(Guarde esse também quando quiser que te perguntem se "você está bem". Ótima oportunidade pra puxar assunto.)


Não descarte frases de filmes. Sempre que der insira uma citação da Clarice Lispector. E... AH, algumas frases dos Beatles SEMPRE funcionam. Mas claro, de preferência músicas do John Lennon e George Harrison. E do "White Album" para cima, humm... Frases em inglês ou em francês, em geral, de bandas alternativas britânicas, que não sejam emos e derivados ao leite, funcionarão bem, desde que não façam sentido imediato (nem posterior). Sim, é só isso que importa no final das contas. Evite fazer sentido, em qualquer hipótese. Dicas:

"living is easy with eyes closed"

"because we separate like ripples on a blank shore"

''o pecado me atrai, o que é proibido me fascina''

Conteúdo: SEMPRE consulte o Google ou a Wikipedia para QUALQUER pergunta ou assunto musico-literario-cultural em geral. Faça a Wikipedia ser sua homepage, aliás. Não precisa ler isso nas horas vagas, porque você não quer aprender porra nenhuma mesmo, né? Mas esteja atento para ser rápido e eficiente nas suas pesquisas e consultas. As pessoas podem desconfiar da origem de tanta sabedoria, e isso pega mal. Mas também não seja imediatista demais, porque, hoje em dia ninguém responde nada na hora mesmo. E, afinal, é natural uma pessoa sensível como você se distrair muito fácil com as belezas da vida, sejam elas uma borboleta pousando no varal de casa ou um site de pornografia.

-

(Continua... rs)

Thursday, July 30, 2009

Achismos

Chega aqui e me esquece
e me aquece
e seja o que for saber
não vá saber
vai, disfarça bem
sai, desenterra
a noite inteira
mas espera, que a pressa
é passageira
o desespero, idem.

E o que eu soube não foi
o qu'eu queria saber
triste sorte
isso de saber demais.

Wednesday, July 29, 2009

[OFF] Nerd Type, rs.

What Be Your Nerd Type?
Your Result: Musician
 

Doo doo de doo waaaa doo de doo! (<-- That's you playing something.) Everyone appreciates the band/orchestra geeks and the pretty voices. Whether you sing in the choir, participate in a school/local band, or sit at home writing music, you contribute a joy to society that everyone can agree on. Yay! Welcome to actually doing something for poor, pathetic human souls. (Just kidding.)

Literature Nerd
&nbsp;
Social Nerd
&nbsp;
Gamer/Computer Nerd
&nbsp;
Drama Nerd
&nbsp;
Artistic Nerd
&nbsp;
Anime Nerd
&nbsp;
Science/Math Nerd
&nbsp;
What Be Your Nerd Type?
Quiz Created on GoToQuiz


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Só porque esse mês não precisa de posts pra encher linguiça e me fazer sentir menos mal por estar escrevendo pouco.

À Terra, Com Amor

É claro que há Amor por essas bandas
Ou só eu estou lendo e seguindo as placas?
No próximo verão vamos passar um fim de semana aqui
Que seja.
Uma vez sonhei que era astronauta.
Bate a porta forte se você for ficar. Obrigada
Quantas vezes já tinha dito à ela
Que no final das noites pro início do dia seguinte
Sempre chega um frio que só?
Eu jurojuro que eu jamais farei
Que seja esta a última vez.
Satélites naturais são minhas testemunhas
E meus álibis, nas noites quando, de férias lá em Júpiter
Sem livro de poesia ou acesso à Internet
A saudade recitada em chamas brancas de luz contra o universo
Era jurada à gritos que não ecoavam no vácuo
E expressões de desespero embaçadas pelo vidro que cobria
Meu peito disfarçado, minha face desoxigenada
Buscando o seu azul num canto do céu
Esperando o próximo período sinódico
Lembrando das vezes que prometi
Mais a mim mesma do que pra você, querida
Que a próxima seria a última vez.

Sunday, July 26, 2009

Despedida

Da madrugada já se esperava o silêncio
Do sol apressado, por redundância, sua pressa
Mas a infância se desabrocha sem metáfora
Cada dia um pouco mais perto da porta de casa
Sai, salta nalguma manhã a velha rima e compasso
Desagasalha-se, bebe o sereno, se estica no quintal
E seu corpo contra si próprio, vai e volta
Sonhando talvez um sonho, um outro corpo, uma salsa

Tão incerta das coisas que se deve guardar
Com cuidado, escancara a caixa de segredos
Espalhando seus mares e desertos pela janela
Do trem das seis que o acaso estacionará à bala
Sim, irônica, ela gosta de fugir na estação passada
Segurando a própria mão e dizendo: "te espero,
Mas te espero pouco, porque se te anseio demais agora
O resto de nossa vida inteira chora... a minha falta."

Sunday, July 19, 2009

Etílica

Zen, Zênia
tênia, Tânia
hahaha, nem yoga, nem botânica
sem amante, que pena
essa noite vamos sós
o desespero e eu
esperar no canto escuro
se desenroscar, minha pequena
da sala de star
da saliva alheia
do meu melhor amigo
da pista de dança que dança
com mais pressa
que meu corpo veio
vá me fazer de poeta
ó, meu copo cheio
e vá abafar
esse tédio
que este guardanapo rabiscado
hoje à noite
vai é secar sangue
vai é manchar de azul o branco do rosto
provavelmente meu
é claro.

Saturday, July 18, 2009

Promessa

Ela me disse para amá-la devagar
pois só sem pressa nosso amor duraria
pra além do inverno e da carne
pra lá dos anos, do karma
e eu acreditei, ó, só deus sabe o quanto
se perde, por acreditar em deus.

Wednesday, July 15, 2009

N e S

II

azar é genético
amor é cultura
tempo, ficção
viver é esquecer
comida é seu corpo
música, de fundo
papel é higiênico
viola é o verbo
beijo é artístico


I

correr é ficar
água, abraço
amanhecer só a noite
anoitecer sob o sol
viver é a lembrança
não é logo
(sua) ausência gera o (meu) verso
(mas) verso mesmo, em si, é a ausência: o silêncio, da tinta e da boca

Tuesday, July 14, 2009

"one liners"

gosto das manhãs por serem a única hora do dia que o sol e o silêncio se compartilham. nada como o silêncio do cântico dos pássaros sob a manhã que ainda não se dera conta de que o dia acabara de começar.

-

defendem tão bravamente a mesma causa! pena que discordam com mesma bravura sobre o conteúdo dela.

-

talvez seja tarde demais mesmo. você, que chora (comigo) pelo leite em cachoeiras, devemos ser velhos demais mesmo, pra essas (e aquelas) coisas. o sol nasce apressado e atrasado pro bonde das 5 :30 Am, os canais televisivos de música gritam que é tarde demais para se começar a fazer música, e eu posso jurar que na noite passada sonhei ter aprendido, enfim, a andar de bicicleta. só que era tarde e eu acordei. tão tarde que eu, acordando, anoiteci sonhando acordado pra fazer de conta tanta coisa que deus duvidava que eu fizesse. mas um dia, enquanto ele esperava a Voz do Brasil cantar a Abertura d'O Guarani depois da novela das oito, eu fiz minhas malas. e fiz de conta que eu fazia de tanta conta assim.

[da série eu gosto do óbvio - parte 22, rs]

Monday, July 13, 2009

Pátria

Minha língua é minha arma
que atira contra meu próprio peito
e sangra em litros as promessas que te faço
e desfaço, ou cumpro pela metade
minha língua é a paz declarada
contra a guerra cotidiana
de se escovar os dentes (pra quê?)
de se ganhar a vida (de quem?)
e o clichê hipócrita de se revoltar disfarçadamente contra coisas que moverei palha alguma pra mudar
e o poema que te dedico e recito à luz do dia, à praça pública
e o gesto de manter uma cena como esta trancada na imaginação apenas, pra sempre.

Saturday, July 11, 2009

Castigo

sua saia curta azul escura
seus risos 'érresse', discrição
aceita minha amizade futura
pra me roer a dentição
pra me passar seu endereço
virtual, sua homepage
sã, linda e sem email adereço
colegial, kisses-me-beije
praia à tarde, so fine
eu sempre te quis assim, ó céus
emoldurada, on line
no firmamento azul de pixels

Trailer

ou eles morreram esfacelados por um trem
adeptos de alguma seita fundamentalista suicida bizarra
ou vítimas de um tiroteio perdido
entre quadrilhas intergalácticas que lutavam por território
ou escalpelados por um borderline à serra elétrica
no sótão de um casarão abandonado da Lapa

vá saber, no necrotério, atenção era a tv 14 polegadas no volume máximo
os repórteres e jornalistas estavam ocupados demais para cobrir o caso
do obituário improvisado, ao rabisco aleatório em frase para a nota de jornal postada uma página antes do caderno de esportes
má sorte de uma morte inteira essa coisa de morrer (no mesmo dia que o Michael Jackson)

Monday, July 06, 2009

Ode Ao Tinha

"nada como desgraça alheia para nos provar que a nossa vida é até bem confortável"
nada como a vida e a irônica e constante parcela de morte na qual ela se divide
na qual, se esfacelando e almofadando, o crepúsculo se espalha à palma de meu dedão
nada como a vista que se entrefecha no horizonte e no olhar e na polpa da pálpebra o sol que queima e a manhã que nasce à beira da praia e nada, na espuma, mas nada
nada mesmo como a angústia de não ter mais tempo e um pedaço de si para dias assim

nada como se pôr as tardes ao seu colo, e nada como esperar você chegar de braços dados comigo
no pensamento e no corpo, logo mais, e, ainda mais, logo menos
nada como lamentar quando isso tiver acabado, para sempre e comigo
na esperança de outra alguém um dia quem sabe ser parecida com a memória que guardei de ti
numa pressa diabética do dia chegar e quando fazê-lo estar sem pressa por mais que estará

nada como o fim, e, mais, como o depois do fim - que faz durar, muito além do que durara, o início e o meio.
"nada como poder abaixar ou desligar de vez o volume da voz que diz o inconveniente aos nossos ouvidos"

Saturday, July 04, 2009

Sandice

eu choro quando o céu fica azul
durmo com as janelas abertas e as luzes acesas
me tranco no banheiro
ou abraço o travesseiro forte
quando quero rir de gargalhar

frentes frias me aquecem
não há chuva que me molhe
eu vendo fiado
eu firo com força quem eu quero bem
eu sorrio pra estranhos na rua

átomos

tenho alegria
o dia belo des(a)ponta
meu 'cê' que
cheio de pressa
cheio de si
abraça quem quer abraçar
esperando por metáfase passar e transpassar
o bom que guardou

só que geralmente o caminho é só de ida
a vida também nem sempre é uma ligação covalente
(sei... ou as pessoas que devem achar que tem lá seus elétrons balanceados ~ sei lá)
é o outro lado que vem
e nem tudo o que os outros guardam pra dar
é o que se quer de graça

Wednesday, July 01, 2009

ao sol

o piano esquizofrênico
sozinho no quarto ao lado
que teima em solfejar
que quer estar sozinho
é um ator de primeira

Wednesday, June 10, 2009

levele

ocorreu me agora o quanto és bela
e o quanto este fato por si só é cruel
que a tua beleza jamais te servirá de repouso e abrigo
visto que a ela estás presa
e nada que prende pode ser seguro, pode ser branco
o que te consola é curto e acabará muito antes com tua juventude
e em futuras épocas de tristeza
antes de aprenderes a amar
a pureza silenciosa do que é assimétrico sem deixar de ser belo
este desiquílibrio vai te consumir em instantes mais rápidos
como se a cada queda ao chão a este tu familiarizasse-te mais.

evita alimentar-te de saudade, porque esta pesa
porque teu presente é pouco
e o passado, excesso, de acordo a tua prece
jamais serás tão bela quanto ontem, e amanhã será menos do que hoje.

desejo, contudo, que sejam menos estreitas
vossas razões para sorrir, um dia
e culpo menos teu peito e mais a civilização na qual vivemos
e grito porque estamos desesperados em ser breves
muito mais breves do que já breves somos.

Tuesday, June 02, 2009

já dizia o ditado

aqui não há deuses, há bandas de rock
o céu que riscara chuva há de riscar álcool etílico
as nuvens de elefantes à araras se tornam ventiladores de teto
o frio se estanca a grito, o abraço à colcha abafa o choro, a solidão mente o tesão
e a pressa é minha oração, além de que, meu deus, a pressa vai me salvar
o resto de mim que está para trás não vai me alcançar
vai, vai indo que eu sou tanta agonia quanto você
aponto e digo que amo, mas amo pouco, vou ser sincero
mais me visto do que eu quero amar, na verdade
mas realmente, vou me vestir do que eu acho que quero amar

e me trocar quão logo o amor se fure
e me trocar quão logo a roupa acabe

Monday, June 01, 2009

dois

espelho, abençoa-me e banha-me com teu mercúrio, pois
espelho, revelo-me a imagem que apagas ou
que devolve-me com má vontade suprema
espelho, deflagro-me teu reflexo mais inconstante
e cada mancha irremovível que irá pungir-lhe de agora em diante.

espelho que estilhaça-se contra o pulso, a vista, o chão e a sorte
apara para todas as direções a luz que te tocar o centro
quando este quarto deixar de ser escuro, por favor.

espelho aferroado ao céu desta cama desfeita
traz-me duma vez de volta a turbulência dos gritos da lua passada e diga-me
aonde se encaminham agora aqueles corpos sôfregos, mas trate de poupar o meu.

espelhos prestes a refletirem os lábios dela, aprisionai-os para mim
seja qual cor tenham neste instante
seja com qual saliva tenham se fundido ultimamente
seja que parêntese tenham riscado à tua superfície esta manhã.

espelho que quebra conforme meu punho atinge a própria face minha
esfarela mais do que minha imagem mal reprisada, além
esfarela mais que este riso ausente em meu rosto, amém.

Sunday, May 24, 2009

(por favor, sem desespero, eu juro que esse post disserta acerca de um conteúdo otimista):

sempre trabalhem com a possibilidade de serem amados por nada e ninguém.

Sunday, May 17, 2009

no ritorna più

I

o poeta estava passeando de mão dada com minha solidão
acenava pela janela do ônibus uma semi-conhecida que beijava
o vento, dedicando seu sorriso ao resto de céu azul que esvaziava a minha tarde
outros poetas, mancos e manetas, jamais escreveram um poema
e detestavam ser citados em notas de rodapé, em livros de auto-ajuda
os outros poetas eram como ele, afinal, e dedicavam as sobras do sol ao prazer barato de caminhar sozinho antes das primeiras estrelas dizerem 'oi' (ainda que haja estrelas e estrelas)

II

voltando ao ponto de partida, odiava com um ódio seco como sua tosse tísica ser lembrado por tanto tempo sem ter feito nada que considerasse adjetivo nato de prazer e ria de si e do espelho pendurado no teto do hotel barato onde dorme enfim sentindo-se bem ao ouvir dos quartos ao lado gritos de desespero, choro, gozo, e se lembra da noite passada, dividia no colo quente outra lembrança, que daqui umas horas já também lembraria menos, se rubra, se morena, se indígena, se afro-descendente, se iguais, iguais, iguais

iguais, e abrindo a porta do quarto, e dirigindo-se a rua vazia de lembranças
sentia-se novo, são, salvo, a lata que chutava com força batia forte como devia na parede
voltava com força dobrada reduzida, e passava por esquinas onde já sentara e adormecera em vidas passadas, e a noite pela metade consigo assim desacompanhava tais memórias, por vezes correndo em desespero, para ter certeza de que deixara-as para trás à uma distância segura.

...que fosse escura a avenida prestes a acabar, escura o bastante para ser impossível ler na próxima placa a palavra "Retorno"

III

o tempo passaria em breve, e em breve seria a lua tua, no assento de casa
no choro do próprio cão, do beber da própria água e estancar as próprias manchas de sangue no vestido dela, para ouvir do passado como que agora dizer:
"já esqueci que tinha pressa e esperança de estar aqui"
diz lhe ainda que vida e dor passam, e diz me também, o poeta, que dos rostos que me rodeiam agora nesse metrô tenho receio e dúvida, pois sei que jamais verei uma vez mais nenhum deles e eu rabisco os versos que evitarei de ler da próxima vez, mesmo sabendo que jamais voltarei a tocar estas páginas, e detesto, protesto, infesto minha saliva de pressa e angústia... daí enfio meu sorriso no peito com pressa e escondo, sufoco meu amor até que ele seja um gole só de raiva, jogo o livro já sem capa dentro da mochila, levanto como se tivesse descoberto derepentemente ter esquecido um compromisso inadiável no sentido oposto para o qual eu estava me encaminhando até um minuto atrás.

erro o ônibus, desço a estação errada, me atraso e desencontro de quem...

...

...da viagem que retorno, da saída que se traça pisando quando pisa o lar
digo que tenho certeza apenas da pena que sinto de mim, e me digo, do alto do meu cinismo
que a odeio pela mesma razão estúpida que um mendigo, ao ser cagado por um pombo, tem por este que defeca.

e diria mais se o sono me arremessasse ao despertar ao invés de

IV

passa rápido a jovem que se joga nos braços apaixonados e desconhecidos do amante
e juram jurar as juras mais sinceras que alguém possa proferir por entre as paredes desse cinema nessa sessão deste mesmo horário e dia de agora
disso ele, o poeta, pensa um verso belo, e recita para si, mas acha-o breve e futil, e engole o cuspe dentro do próximo trago de vaidade, mas dita aqui, nestas páginas amassadas, da vista prensada se pressionando a ler o que está faltando, e diz depois que o que há de mais precioso para se guardar da vida é o amor que se viveu, mesmo se este se sepulta há muito mais tempo do que a vida que se segue depois dele, mesmo que a suposta fila referida anteriormente já tenha andado, esvaziado, preenchido-se novamente, e desertificado-se outra vez mais e me ri o desdém que guarda para essas horas, e aponta pra tela do cinema mudo ditando no final da estrofe: "há mais palavras num filme de Chaplin que sentido na vida de 99% das pessoas nessa sala, contando com o projecionista, e, claro, a mim mesmo, aqui, ditando o talvez e o incerto de tantas coisas que faço de conta que vivo. só faça de conta que me lê e fica tudo por isso mesmo."

daí, acho que concordo e viro pro lado, e concorda também o casal que citei, agora prestes a silenciosamente transar de tédio, e a sessão interminável termina e esqueço a razão de tanto desespero até a próxima...

(...)

V

quando sou obrigado a beber a água que cai do teto de casa eu chego a conclusão que estou preso, imóvel e mexo meu corpo com força e o que eu consigo é correr (deixando meu corpo para trás) para os braços de minha mãe, por mais que ela esteja fora de casa, em festas que sempre me convida só para ouvir o som do meu desprezo e

VI

e do susto despertamos, eu e a melancolia de uma civilização inteira
acenava pela tela da televisão a jovem de cabelos cacheados rubros, beijando sem paixão, como quem está a pensar em outra coisa, como quem se despede de um desconhecido, e a madrugada inteira saía caladamente pela porta da frente.

o frio e o vão azul claro que escapam e espreitam pela veneziana esvaziam minha noite passada, pois, às 7 horas, o mundo vai ter de voltar a girar, e encarar de frente a vergonha à luz do dia, íris na íris, e por mais que, infortunamente, tenha que fazê-lo pela raza perspectiva minha, o que nos resta a essa altura é a resignação que cultivam os doentes terminais daquele hospital no meio da Avenida Rio Branco.

Thursday, May 14, 2009

Sonata

Ela: à beira da janela, sem aliança
O sol já fazia de conta o seu desprezo
E vice e versa, quietas, palavra e ela

A manhã ensaia o passo de sua dança
última, pressa dissonante, desapreço
Cantara antes da banda o amor à capela

Queria logo ser o colo, a madrugada
sem interlúdio vespertino ou meio dia
Amar de um gole só o sereno por vir

Porém, brotará tais esperanças, que fada?
Se entre ambos os atos destas vidas havia
Mais horizontes que o oceano ia suprir

Sunday, May 10, 2009

9 dicas pra poetas pós-modernos que fingem que não o são, ou pretendem um dia sê-los para fingí-los não sê-los

[insira aqui uma frase de efeito, se inspire em nicks de msn. "a vida é como um filme em preto e branco cujos atores se comportam como se tudo fosse colorido". faça de conta que foi extremamente pensado e filosofado, quando tudo o que você fez foi falar a primeira coisa sem noção que lhe veio à cabeça]

[insira aqui uma estrofe inteira com adjetivos óbvios e nomes comuns. mas finja que não são. "amor desnudo", "chuva cinza", "riso pálido", "olhos de faísca" são boas dicas]

[aqui é a hora que você fará trocadilhos idiossincráticos, como "cuscuz" com "avestruz", e "tatue" seguido de "menstrue", pra provar sua mente aberta às pós-modernidades]

[escreva todos os seus textos em letras minúsculas. estamos na era da internet, então você precisa propagar a idéia de que na "contemporaneidade a língua enfim se faz livre das amarras de uma sociedade opressora que..." é isso aí]

[quando passar da fase dos adjetivos óbvios e nomes banais, faça metáforas que ninguém compreende. como "a vida inteira passa em canos enferrujados e minhas lágrimas são chuva ácida." e justifique isso com uma afirmativa como "a verdadeira poesia vai além dos alicerces da razão" ou algo do gênero]

[tenha a afirmativa citada anteriormente salva no seu "ctrl+c" e anotada na penúltima folha do seu caderno. para emergências]

[faça textos idiotas e irônicos divididos em tópicos diferentes. pode ser uma receita de bolo disfarçada ou um passo-passo para qualquer coisa. isso também é original e pós-moderno. pra ser mais cool ainda, diga que é um poema com um olhar crítico da civilização ocidental disfarçado com uma pequena influencia de humor britânico, à la Monty Phyton. (nossa, boa, vou anotar isso...)]

[escreva títulos longos e versos assimétricos para seus poemas. para demonstrar sua versatilidade, depois, escreva sonetos de métrica incorreta. justifique o equivoco com o mesmo papo sobre "pós-modernidade liberta o individuo contemporâneo..." blablablá. use essa mesma desculpa esfarrapada pra justificar seus erros gramaticais]

[compre meia dúzia e meia de dor e amadurecimento no mercado livre. reze para não darem um lance maior que o seu antes das 2 horas da tarde do próximo sábado, senão...]
identificar-se com o que os outros escrevem, poesia, conto, etc, pra mim, seria como achar graça do cheiro de merda alheia. digo, ja dizia o ditado, peido a gente só aguenta o nosso, né?

[da serie eu gosto do óbvio, parte...12, sei lá]
(quando se coloca pra editar algo aqui no blog, aparecem 4 abas no canto superior da tela, "Postagem, Configurações, blablabla". na aba 'Postagem', existem outras 3 sub-abas, dentre elas, a primeira, que eu me referirei a seguir.)

acho tão metafísico esse botão estampando a palavra "Criar", na primeira sub-aba da sessão de "Postagem". juro, tanto por ele vir de cara, a primeira e imponente opção, quanto, mas principalmente por dele vir, justamente, a derradeira e única saída para a produção e publicação de textos. tá, e? é que eu vejo muito peso no verbo "criar", e, talvez só veja e sinta tal peso em outro verbo, o "amar", provavelmente por razões bem similares... talvez eu acredite que ambos os verbos criem, em um sentido mais abstrato, mas em espécies diferentes. um, coisas 'inanimadas' além do indíviduo, outro, 'laços' entre coisas animadas, também além dele (embora muita gente ame coisas de existência pessoal, sem vida, literalmente, como amar um carro ou uma pia entupida, mas isso é outra história, pois pra mim estão apenas exteriorizando um pedaço de si no objeto x e ali...ENFIM, isso é outra história. e pro inferno minha achologia limitada).

dai garoam as perguntas... e os filhos? se criam? só se utilizar-se da etimologia "cuidar", associando seu sentido ao verbo que me refiro. porque parir um filho é diferente de "criar" um. na verdade a própria noção de criatura criada (nós) já traz por definição o ato de dar a luz por união sexual e/ou amorosa de um novo ser. nada está sendo criado nesse sentido, apenas está sendo efetivada a continuidade da criação em seus termos "contratuais", digamos. se fôssemos tão poderosos assim, poderíamos parir crianças com rabo de porco, como no romance de Garcia Marquez, ou eu poderia optar por criar um rinoceronte africano com minha futura esposa (que provavelmente me mandaria pro inferno ou exigiria um divórcio logo que eu tenha proposto isso à ela).

outra pergunta: qualquer tipo de criação leva a um elo de exteriorização do indíviduo? talvez, sei lá. eu posso criar algo dentro de mim mesmo e fazer isso brotar? sim, isso é o sentido da criação "artística", naquele papo metafísico que endeusa quem produz qualquer tipo de arte. mas e se criar algo dentro de si e isso continuar confinado lá, terá sido isso, nessas condições, criado? e se eu disser que criei, que amei, que fiz um cadinho a mais de vida partindo de mim, sem ter botado pra fora, seja em forma de discurso oral, ou em poema, conto, babaquice. alguém acreditaria? poderia clicar no botão "Criar" e dizer: "pensei num poema. eu juro"? vocês acreditariam em mim?

Friday, May 01, 2009

sorrio a vida de pouco em pouco porque me faz bem
ser parcelado, desapressado, descompromisso contigo
que ei de levar prum outro plano, babe
num outro plano estaremos de braços dados
embora você se apresse pro amor dado
então você se aquece e joga os dados
seu cheiro, lavanda, e outros nomes com anda
vai, vai duma vez que já o amor desanda
sai mais com pressa que receio, vai
antes, antes que eu te chame de luanda, amanda
leva essa sofreguidão pra lá que aqui eu quero tua mão
não o teu bilhete de volto logo nunca beijos
quero sorrir a calma de cantar lado a lado essa miragem viva
mero sorrir da alma, andar despedaçada essa coragem fina
se engrandecendo diante do teu medo e da sua fuga em ré menor
se repetalando tão inversamente proporcional ao teu adeus

cedendo e minto: estou e vou calmo esquecendo a vida
que ela me esquece e somos dois: corpos ao vento e ao sol
sombra e grão, horizonte me perpendicula, firmamento se acima
caia por mim sua tempestade de areia que a visto inteira

Monday, April 27, 2009

dê sinais de vida

rs

Monday, April 13, 2009

ensejo

que deus abençoe-os até sua a porta abrir e fechar contra minha face
que deus abençoe quem com amor extende a mão para retirá-la com pressa logo em seguida
e que perdoe com amor cada beijo escarrado a distância que darás de peito aberto (e mais, que mais sagrado ainda seja o ato de nem assim lhe reagir e continuar a caminhar simplesmente)
que deus abençoe nosso lar maior prisão que poderíamos ter comprado à prestação, consórcio e financiamento
que deus abençoe nosso futuro para sermos felizes com cada pedaço de chão no qual caímos tontos de bêbados e podemos chamar contudo de nosso e abençoe-nos uma vez mais quando isso assim nos for o bastante
que deus abençoe com seu poder e glória o fato de termos aprendido a viver apesar de: apesar de não vivermos, apesar de termos aprendido a não querer viver, e que a partir do momento que isso for razão de nossa felicidade seja instaurada a paz em nossa alma
que deus abençoe a graça de termos nascido prontos para compreender ninguém, nem a nós, muito menos (e agora damos uma risada) ao próximo
que deus abençoe estarmos nos beijando agora e termos sidos agraciados com o dom divino de não sentirmos falta de nada depois que o tempo impor-se como de natural separando-nos
que deus abençoe o fato de eu ter braços para cruzar ao invés de abraçar, e pernas para correr ao invés de andar (lado a lado)
que deus abençoe o nosso pouco saber, pouco saber torto de lidar com o que queremos de fato, com o que queremos do passado
que deus abençoe os dias que nem a chuva que me traz febre e que nem o sol que me sua o corpo seriam o bastante para fazer esquecer de mim em detrimento do meu corpo e que por alguns instantes eu poderia sim talvez quem sabe estar em algum lugar além de mim e conseguir desejar um pouco, mas um pouco que fosse e que seja que eu fosse um pouco bem pouco daquelas coisas que um dia eu quis com tanta força e quando digo isso me refiro menos aos sonhos de infância que ao me foi instruído: afinal o que eu desejo é sim o que me foi dito como bom, por isso mesmo digo que eu quero o mal, eu quero ver o ódio abençoado a impregnar minha alma e fazer-me pecar, mas pecar com força maior, força estranha a mim então, força incisiva principalmente contra aquilo que me definiram pecado

que deus abençoe o tesão que sempre sinto por ti se o próprio me ajuda a sentir algo além dele
que deus abençoe o bloco que passa e me leva e me quer porentre seu canto pois quero-lhe por entre oqueeu canto também
que deus abençoe as estrelas cujo nome me é impossível esquecer
que deus abençoe o desespero que sinto quando diante da minha vida inteira a única coisa que consigo querer é fazer sentido

Sunday, April 12, 2009

de pessoas refaço os lugares
de sorrisos entupo os ladrilhos
das portas batidas revivo as despedidas
lasca caída - pessoa que veio, ficou e passou

na calçada deitada fica aquela que me cedeu o colo
há poucos estranhos passando em suas bicicletas
o rosto novo que me fica é o rosto antigo que ficara antes
a pessoa incógnita que me fita me preenche e compreende

do alto, podia, seria uma zona sul ou o açúcar a me voar
ma'são vozes-radio, ao invés de paisagens-óleo
ecoando o meu peito afora, vi as canções compostas
de conversa, amor, praia, trilha, minha, vida, pódio

se estou lhe fora, sinto-lhe de fato amputada em mim
como se cidade Redentor me rendesse a luta
tampouco o asfalto ou o horizonte cimento tenham culpa
ciente faço o amor ferro e brasa que vós me fizestes

aonde quer que eu vá carrego já, já é tarde, diria
lugares? sim pessoas, nuas em mim, a luz do dia

Saturday, April 11, 2009

fds

aos sábados de madrugada querida meu amor é posto justo ao que guardo bem na memória e relevo ainda na medida que esqueço que a vida inteira será ainda o que é depois da noite que passa sem luar pelo calçadão com peito postiço em 10 reais a hora. meu beijo ao teu beijo será manhã e paz como o álcool-3-por-5 que sai de mim pra te dizer bom dia e adormeçer-me como anjo caído do décimo andar ao décimo quinto sono. o quanto você me dói (à cabeça e ao coração) é tão bom de notar porque se assim é é porque deixo e se deixo é porque minha vontade já se faz tão relevante como a programação dominical de televisão aberta. punja-me o teu o perdão até o próximo fim de semana. seja meu cálice rendenção e abrigo. amém.

Thursday, April 09, 2009

veríssimo

vamos ver pra que lado vamos correr agora
vamos correr agora que a pressa vem aí
atrás de carne podre fresca e almas virgens em caridade

cheio meu peito incha de tanta interjeição por dizer
de tanta saudade deixada pelo caminho que tropeças tu
que destinada fora a querer demais aquilo que jogas fora

ó, teto azul de nuvens cujo traço desaprendo
ó, descampado que preso ao meu quarto sopra um vento magro
opaco, incapaz, leva e deixa aqui com e sem urgência quem eu quero

vamos ver para que lado tu sopras, embora, vento
creia eu que há para ver menos, a essa altura, teu destruir
que o que constróis, que corre, que curra, que o que acorrenta

numa necessidade cega e tísica, que te passam pelo tempo
leve, desmantele e sele os abraços dos braços que ficam dos que vão
seja o peso inexistente, seja o esquecimento maduro que preciso (para ser) forte

Monday, March 30, 2009

livre como a noite que entra em forma de brisa fria pelas frestas da veneziana
livre de mim o escuro que faço conforme te vejo e te faço em mim pra mim apenas
livre assim estarei no momento que fechar do lado de fora (de mim) a cegueira que
livra dum açoite o tédio tanto amor sem causa se me amo menos o resto do mundo e fim.

Sunday, March 29, 2009

não há conceito sobre a vida forte o bastante que resista a um desastre de avião

nada a temer = nada a encarar

nada a encarar = problema de vista

falo a verdade mais por falta de vocação à mentira que por honestidade

"melhor não ter o que confessar e pecar sem referencial de erro"

ultimamente, a melhor qualidade que me descobri foi de eu não ser tão 'bom' quanto que eu achava que era.


[da serie 'eu gosto do obvio' ~perdi a conta]

Wednesday, March 18, 2009

devíamos estar nos acompanhando
mas estamos sozinhos ao mesmo tempo
no mesmo lugar

parecia que cantávamos o mesmo coro
e cantávamos para nós mesmos
coincidente e simultanea e 'solamente'

Monday, March 16, 2009

migs

ama do primeiro olhar, não da segunda mão
ama meu peito sem sangrar, sem escorrer
ao ar livre, sem gritar auto-falante que ama
a tarde que eu cheguei e soube de cara que eu queria você
queria você, mais que nua, fosse vestida de mais que simetria, de moda, de estética, de meio, de baba, de assobio e cantada, que fosse cantada como canção que devia ser, ao invés

em segundo lugar, guardo de ti a certeza do que me faz
perder a paciência, o ônibus e as horas, você me traz
cada xingo e ódio com mesmo amor que guardaria
as traições que 'cê me faria, mas nem fará
por terceiro, pera, vou lembrar bem, eu acho, ter achado, te querer com os outros quando preciso, comigo quando eu preciso, qualquer parte que precise

só me deixa um recado quando for porque necessito sim que você me seja também.

Sunday, March 15, 2009

a cura pra essa pressa que me consome
pausar logo mais um "quê" que lhe darei
em breve, juro, vamos nos salvar, por quem
daqui a pouco, espere um pouco, me dê um pouco
de tempo, do tempo descompromissado
que você despejava do bom dia ao por favor
das recepções, ao salão, no bar e no elevador
até amanhã, me esteja, me despeja em ti

a dura verdade é metade do que já foi
era que eu queria muito guardado em mim
você cai tão cedo, já as seis beija com medo
minha boca, e bate a porta, e mata a sorte
sem chover, amor, salta esse infinito
que você ensejava do bom dia ao por favor
se acalme, em alguns minutos-luz chegaremos
aonde queríamos estar - e até lá, esteja aqui.

Saturday, March 14, 2009

..

eu sou filho das coisas que odeio
eu me digo pelo adeus que lhe nego
refaço na estrela, manhã que rodeio
à órbita remota, mundo, desapego

incircunstancialmente carreguei a saudade em meus braços até o rio baldio mais próximo e lá fizemos nossos filhos com pressa e temor doído de que chovesse, de que nos vissem, de que nos abraçassem e beijassem, de que estivesse escuro em breve, de que o céu aberto se tornasse derepente os elevadores e os azulejos das segundas e quinta-feiras, e com o amor inteiro que nos restava aprendemos a nos jogar com paixão e dúvida nos esgotos e valas da vida pelas quais pássavamos frequentemente desde então e sempre, e deixamos a terra mijada por ratos e cadaverizada por baratas e latas de refrigerante entrar em nossos tênis, e nos arrependemos de nós mesmos afinal.

na tv, na internet, nas poucas rádios que restaram, nas ruas e becos e assaltos, nas boates e botecos, no jardim e colegio, na universidade, nossos estranhos, coadjuvantes, figurantes, pais, amigos, colegas, apresentadores, professores, advogados, personal-trainers, astrólogos, cientistas, psicólogos, filósofos, comentaristas esportivos, narradores, cineastas, cantores, romancistas, poetas, críticos de arte e culinária, nos ensinaram apenas uma palavra, e com ela dizemos, e suas letras desmembramos, recombinamos, resignificamos, negamos o que estava escrito antes de nós, negamos o que fora escrito antes por nós, vezes o bastante até sangrar os ossos da mão suja que buscara em desespero um sentido destro, sem tempo, nem sempre foi possível ser e estar, o tempo esgota e descobrimos só enfim que a tal única palavra era a palavra errada (pra nós).

noite a fora nos bolsos, meus amigos n'umbigo
meu amor na beira da boca, meu prazer na palma da mão
agora esqueço as verdades que me têm lido
e cedo e tarde em mim entram em comunhão
não.
no dia que eu disser o que sou
deixarei no mesmo exato instante de sê-lo
(ainda que o que eu diga não seja de fato nada:
nem eu, nem ela, nem ninguém)

aliás, desconfio que já me disseram isso

-

veja bem,
escrever é absoluta e concretamente diferente de querer escrever
verbos diferentes, semânticas diferentes, planetas diferentes
quem quer dizer acha que diz, enquanto quem diz nem está consciente daquilo

-

e que fique claro que estou bem longe de querer ditar
o verdadeiro e o falso
(como se o mundo fosse tão limitado quanto um bolo de morango - divisível pela metade)
sobre qualquer merda que eu possa proferir aqui
eu não quero nada



[dá série "eu gosto do óbvio". 'parte 02']

Tuesday, February 17, 2009

here's to you

estamos sós na mesma fotografia
você encena uma despedida e eu penso em dizer oi
mas estamos sem tempo para sentimentalismos
ou de fazer o que nos der vontade

enquanto chove você fica perto d'aqui
e a marquise se encolhe de alfinetes
vamos nos abraçar mas esquecemos
nossos braços em casa
e o que sobra é o que dizemos
e dizemos nada

estamos a sós na mesma memória
temos tempo o bastante para estragar as coisas
ainda, você pensa, e pensa duas vezes
enquanto eu penso dezesseis, até finalmente
não termos mais paciência para frescuras d' carne e d'alma


uma vez me disseram que as coisas são mais fáceis
para o lado que quer dizer adeus
mas esqueceram de me avisar que elas são desumanas
quando ambos tem que dizê-lo
sem ninguem ter vontade de querê-lo.

e surpresa

.

*respira*

o tempo que torramos é o suficiente

a saudade que colhemos nos basta


só que há de desmedido aqui
é essa mania de (querer) dar certo

e a fobia do (que é) contrário


[dá série "eu gosto do óbvio". 'parte 09']
cansado de
se
ferir, resolveu
tornar
pro lado que

fere

(fazendo de conta que as duas coisas são tão diferentes assim)

para
pôr fim
na cantoria, decide
se tornar a audiência
calada

... (um lado finge que diz, outro finge que ouve;

mas no fundo estão fazendo isso mesmo)



[dá serie "eu gosto do óbvio, eu acho" - parte '03']

Saturday, February 14, 2009

up there

agora há pouco houve um tempo:
pessoas que se amavam se procuravam versos para dar-lhes umas às outras
Sofia saía de manhã pra colher gotas de chuva, exclamações e comprar pães
A parte boa do dia, sempre, ela dizia por debaixo de um meio sorriso
A tarde e a noite e a madrugada era o corpo inteiro dela que chamava
O universo que se reduzia à atómo para acarinhá-la e tê-la consigo
E os dois se guardavam, para si, para ti, para que o resto do mundo tivesse ainda sentido
A cada manhã que levantassem para continuar vivendo o tempo que lhes restavam
Então que Sofia saía de manhã, colher gotas de sereno e lágrimas, porque era muito bom
e triste que a vida estivesse tão cheia nela, antes que cheia de si, cheia no céu que caía na chuva, na gravidade, no meteorito, na nuvem e na névoa, na luz de sol e radiação lunar
Triste porque... porque sei lá, tem sentimentos que são tão grandes e sem nome que o melhor é dizer que são o que não são, fiapos de velha fantasia vazando sob a cama em pedaços de carne de um velho monstro já extinto
A vida que estava com tempo o bastante para ter tempo de sobra e gastar sua vaidade pura, desespero quieto, poesia eunuca, e ansiosa de despejar seu desejo cego e sincero sobre o(s) que amava.
E então Sofia saía de manhã sem pensar quantas manhãs seriam daqui pra frente, ou daqui pra trás, ou daqui pra cima... Sofia saía e queria muito que o resto do mundo saísse também.

Sunday, February 08, 2009

quiçá

e para quem chora para se lembrar que não é mais preciso sofrer
eu leio uma história de dentro de uma garrafa vodka
dum papiro que eu mesmo rascunhei em uma vida retrasada
que me insinuava que viver é a melhor solução para a vida
mas disso tenho tantas dúvidas ainda... tanta-tanta que é mais seguro me perder
e tenho vindo por esse caminho torto cheio de atalhos que me mais me atrasam
matando sede com água de pombo, e abraçando estátuas de pedra mijadas e pixadas
de praças que eu sei que ninguém visita em finais de semana
pelo o que sei o teto lá de casa era azul até outro dia
e o céu que era feito de lajes acimentadas e de amontoados de água de chuva
mentira, mal tenho tempo de amar e transar, quanto mais de ter comigo as coisas que eu quero
e que eu quero, eu quero é beber pra esquecer, só que só consigo lembrar e contrapôr
substantivos opostos, antônimos, e dizer que isso e aquilo é poesia
e dizer com conjuções conectivas que o mundo é o que eu digo e o que eu vejo
quando que mais sou uma barata, uma baratinha vagabunda viciada em Raid
tentando entender de uma vez por todas porque as estrelas ficam bilhões de anos
queimando e fundindo em seus núcleos hélio e hidrogênio

(e o que eu quero? eu só quero amar, porra
quantas vezes vou ter que repetir?)


Saturday, January 31, 2009

q

se inexistisse a identidade?
se a necessidade do isso e aquilo fosse desespero clínico psiquiátrico tratável
ou doença erradicada
se o meu e teu fosse nem nosso nem del
fosse infinito qu'eu quero
fosse deslocado onde estou
incógnita insolúvel a certeza e beijo à três o descaso que faço de ti agora
por sermos diferentes

que restos de eternidades seriam essa noite e as quarta-feiras-não-sextas
que incontáveis, inrotuláveis canções cantaria em sacadas, quartos, terreiros
que sonhos pariria sob quantas árvores, colégios e celeiros
que misturas heterogêneas amaria num mesmo abraço
onde guardaria meu medo de amar
se amasse tudo

quê seria eu, se amasse tudo.
quem seria eu se amasse o que

Monday, January 26, 2009

10 e meia

e hoje em dia o que que é que te abriga
se está prestes a chover ácido e coca-cola do céu
você corre prum teto e abraça seus lençóis pingados de suor
ou extende as mãos pros céus e diz "sou bem maior do que pensas, viu?"?

(páre de rir pois agora sei onde está se escondendo)
fique longe de mim
dê uma sapatada no abajur
e esteja perto outra vez de vez

hoje em dia o que te abriga é a dúvida?
vou te dizer que acho que ainda preciso entender o que sinto por você, tá?
mas fique calma, terei menos certeza se às 11 e meia da manhã vai estar claro
do que disso

então, hoje em dia o que te abriga é o que enlaçamos agora?
espero que isso seja um bom sinal



Wednesday, January 14, 2009

Estava pensando hoje de manhã... pr'onde aqueles pássaros vão? E as baratas que entram pelo ralo do banheiro, onde elas dormem e escovam os dentes? Tem tanta coisa sem importância que me encho a mala às vezes, e tem tanta coisa que eu... na verdade devo me infernizar com quase tudo. Aquele pássaro verde e amarelo (estilo Copa de 70) de outro dia por exemplo. Pousou por uns segundos no varal de casa, o vi pela janela enquanto eu bebia água na pia da cozinha. Ele o tempo inteiro tentava alçar vôo para algum lugar y que ele havia esquecido qual seria, porque parecia que ele simplesmente desconhecia onde estava. Tentava, se perdia bem no meio do impulso e acabava por voltar no ponto inicial. Fazia isso repetidamente, parecia um Ioiô, aliás, ainda existem Ioiôs? As crianças devem brincar de outras coisas hoje em dia, tipo desespero e terrorismo. Mas voltando ao pássaro, acho que fiquei cerca de 20 minutos vendo até onde a sua sorte o levaria. Cheguei a pegar um banco pra sentar e observá-lo com mais conforto. Só que o telefone tocou, e eu fui atender, e, claro, desviei minha atenção para outras coisas. Só lembrei novamente de sua existência horas e horas depois, ao me deparar com a cadeira vazia no meio da cozinha, em mais uma das minhas incursões em busca de H20. Olhei novamente para o varal sem roupas, e não havia nenhum passarinho ali. Me pergunto agora se ele caiu duro e morto de tanto tentar chegar aonde queria, estando agora em processo de decomposição, ou se conseguiu. Conseguiu? Nunca sei quem conseguiu nada. As pessoas conseguem coisas também? Sempre penso em corpos putrefados, em primeiro lugar. (Depois vou dar uma olhada no quintal do vizinho e ver se acho algum cadáver.)

As baratas me intrigam. Em dias frios você quase esquece a existência delas. Pensa em caramujos pendurados na veneziana de suas janelas (e em porque diabos eles escolhem lugares tão peculiares para tirar uma naninha), pensa em assistir novela das oito (ou nove?) pra ter assunto com a trocadora de ônibus, pensa cortar as unhas, porque elas já estão engaixando entre as teclas do teclado do seu computador, pensa em continuar a escrever aquele livro sobre monges australianos e pedófilos, pensa em sair na rua e ser atropelado, enfim... Menos nelas. E elas surgem em dias de calor tão naturalmente quanto a gravidade jogará minha barriga pra baixo daqui uns anos. Da última vez eu vi, inclusive, a tampa do ralo se mover, e se fechar para trás, enquanto um desses indivíduos passava à velocidade da luz (na verdade li uma vez, usando minhas horas vagas para ler sobre baratas na enciclopédia, que se elas tivessem o tamanho de um homem correriam 150 km por hora. Weird.) Tentei contornar o problema com um tijolo, e só deus sabe como, elas passam por debaixo dele, se materializando aos poucos do lado de fora. Conclui que as baratas são paranormais, alheias à qualquer coerção social, tem poderes psiquícos, se teletransportam, voam como jatos supersônicos, emitem raios ópticos destrutivos de calor, e nunca vão desaparecer. Tá, em parte eu devo sentir um pouco de inveja.

Meu quintal tem uns esquilos também, que volta e meia entram pela famigerada janela da cozinha. De lá pegam alguma coisa do fruteiro, geralmente frutas (dã), claro, sem deixar derrubá-lo e espalhar as coisas chão a fora. Uma vez um deles veio e dormiu na minha estante de livros, e certo dia, à procura de um livro do Dostoievski, eu vi... Tá, é sacanagem, não há esquilos na droga do meu quintal, e tãopouco eles entram na minha casa, conseqüentemente (com trema mesmo). Mas eu queria de fato que isso acontecesse. Porque sei lá. Eles são rápidos, e comem nozes, e eu adoro nozes... tá, não me olha com essa cara, não tenho deficiência mental, é sério! Acho eles especiais. A beleza involuntária, a vida natural em florestas temperadas, hiperatividade compulsiva, moradia em buracos de casas de árvore, escalar dezenas de metros todos os dias, e, dependendo da espécie, a incrível capacidade de voar (pelo menos reza a lenda)! Na próxima vida eu arranjo um requerimento e nasço esquilo.

Quando acordo tenho certeza do quero e de onde estou. E os gafanhotos que vi outro dia na televisão, sendo esmagados contra a hélice do avião, daqueles E-16 ou alguma sigla do gênero, tipo antigo, adoram me vir à mente com seus três pares de pata e asas. Uma manhã de sábado, você sai de casa em busca de alimento para si e sua família quando uma máquina de metal gigante atrevessa teu caminho te trudidando em incontáveis pedaços. Bem em dias assim que eu não me sinto melhor que inferno algum nesse mundo.

Será que há fila de espera para o requerimento de esquilos?

Thursday, January 08, 2009

como dizia, eu

vou te abraçar até desconhecer quem é quem

vou gritar até meu grito soar como meu

vou esquecer até minhas memórias serem as de outros

vou cantar até minha voz ter vida própria, ter pernas e correr

vou pular até a gravidade desistir de mim

vou anoitecer até as estrelas serem quem eu quero

e vou ensejar até serem estas cadentes e pegá-las com o peito

vou suar até ver oceano

e vou lagrimar até me crer oceano

então, uma vez  lágrima, serei uns vários lampejos de esperança atmosfera à fora 

e vou voar até despertar ou adormecer de vez





Monday, January 05, 2009

a parte de mim da qual estou mais cansado é tudo

Thursday, January 01, 2009

yep

we'll make it right when there'll be nothing left to fix

começando por agora