Friday, July 28, 2006

Aqui tão longe

Eu não te quero tão perto assim
Quero uma distância bem assim, não palpável
Um ou dois anos luz
Bem longe, bem perto

É quando eu quase consigo problemas não me causar
É quando por um triz a sua alma passa rente a minha
É quando eu quase consigo problemas não te causar
É quando por um triz eu te roubo e protejo com mãos não minhas

Que sejam minhas, que seja minha
Que seja minha, que sejam minhas

É quando eu tento dizer quase tudo de improviso
É quando eu busco me apegar a simplicidades
Sem conseguir
É quando eu tento jogar tudo pro alto
E acabo jogando você também
(E lá está eu tentando te salvar de novo
E lá está você tentando nos salvar)

Há mais coisas entre um meio sorriso e um quase dar de ombros do que sonha minha vã filosofia.

-------------------

Isso aqui é uma quase canção ainda em gestação. Isso explica a estrutura mais redonda , diferente dos poemas usuais que escrevo =]

Saturday, July 22, 2006

Pela madrugada...

Eu te falei
Já anoiteceu

Todo o tempo e o tempo todo foram lá meus passos
Dei-me um nó, é verdade
Caí de cara, e a face borrada de lama que se erguia
Então...

Fica bem, está tudo bem afinal
Nem gostaria de te lembrar, nem tão cedo
Está aí, tão livre e solto
Dei-te um olhar, e em uma palavra
O olhar traduzido na palavra exata
Em cada sílaba apressada
Mas isto não é pra você
Isto não é nenhuma tentativa inprecisa de te dizer de novo o 'de novo'
É só outra porta que vejo o vento tocar e bater

Recomendo que esqueça
Já anoiteceu, já aprendi, já fervi o som do não
Quis, mesmo assim, estampar essa inquietação e essa vontade
N'um sorriso assustado
Que eu, meio por acaso, vi

Faz de conta, faz de conta
Eu... que eu... faço de conta também
Isto não é pra você
Isto é pra se ouvir calado, de luto, como em prece
O tempo já tá despedaçado mesmo
O tempo já tá derretendo aquela vela mesmo
O tempo já deu seu espetáculo, recolheu os aplausos do chão e desceu do palco mesmo
E o relógio já bateu as dez faz tempo

Já anoiteceu
É tarde... boa noite

---

(E a melhor parte é tentar não se importar com tudo isso...)

Tuesday, July 18, 2006

Interlúdio em mi maior

Estamos presenciando uma transição. Estamos dançando a valsa da vida, claro, a toda parte e a todo tempo. Mas aqui finco com um colchete este bilhete. Bem no meio, incisiva e precisamente marcado, do interlúdio. É tempo de mudança. Ouço a minha voz rouca de trastanteontem ficando mais nítida. Claro, não é sempre.

Lembrei de umas imagens curtas. Estava passando na pele minha mão banhada de dúvidas, afim de sarar eventuais chagas que vinham a tona. De mim e para mim. Estavam ali por algum tempo, ou melhor, estariam ali por algum tempo. E eu as apaguei. Nunca quis saber de deixar pra limpar depois as mãos sujas do que me envergonhava. Envergonhava-me de tudo ou quase que se referia as memórias estampadas com um "eu" bordado. Isso era o tempo também. Era outro interlúdio. Outra máscara a ser trocada.

Lembrei de um dia frio e breve. Eu, sob as cobertas, tentando evitar o frio lá de fora. Lá fora... caia um tiquinho de solidão, um tiquinho de excitação instável, um tiquinho de sorrisos misturados a areia da varanda. Os pés sujos limpam a terra da rua no tapete. Eu limpava os meus em dobro. E a janela entreaberta, que eu fechei toda a vez que ventava mais forte, estava lacrada com tábuas e pregos. Outro interlúdio. Outra máscara a ser trocada.

Lembrei de uma tarde e uma noite. Eu, distraído, contando saudades que não tive, colhendo flores de jardins alheios. Sujei minhas mãos de novo pela primeira vez. Fitei o próprio espelho com tanta impaciência desesperada, que este, trincado, me gritou. Gritou-me sobre o tempo cristalizado na retina que já não enxergava. Sobre o carnaval que passava (regojizos, danças, festas) que eu, pela janela, apenas comtemplava. Bem assim como sempre. Gritou-me sobre meu sorriso insincero, que cavara um buraco na varanda, jogando o quase cadáver do "eu" bordado lá. Que cada vez mais jogava terra para cobrí-lo. Fechei os punhos. Abri o peito. Desci as escadas do meu quarto, e fui cantar a beira da rua também. Cavei a tona todo o caminho para a superfície. Outro interlúdio. Outra máscara a ser tirada. E quebrada.

Cantei, suei, girei a roleta russa no carnaval da vida.

Estou aqui, não tão melhor do que antes. Mas completamente diferente do que eu poderia estar.

Wednesday, July 05, 2006

Acredi...


Eu acredito em anjos de papel
"Acredito nas gotas respingadas na face daquele que joga a pedra na boca da lagoa calada."
Eu acredito em restos de promessas
"Acredito naquilo que você tentava negar ser mas acabava sendo de uma forma ou outra pois não se escapa dessas coisas"
Eu acredito na minha escravidão pela inspiração
"Acredito nos rabiscos desconexos jogados ao vento por essa boca pagã com relação ao sagrado silêncio"
Eu acredito em horas que duram segundos
"Acredito que entre um abraço e algum outro apreço, o tempo se partirá em 1000, e deixará só faísca e luz restando aos olhos"
Eu acredito em verdades improvisadas
"Acredito no que você diz, quando não diz, quando pensa em dizer, quando quer dizer mas acaba nem dizendo e nem fazendo e nem e nem e nem..."
Eu acredito em chuvas secas, mas prefiro as molhadas
"Acredito na gripe que se pega no meio do banho de chuva, bem aquela dos filmes, bem aquela direta que penetra a pele como se tocasse teu peito por dentro num único aperto, num único sufoco, d'um único jeito, que não vai largar tão cedo, ou tão nunca"
Eu acredito em anjos de papel
E em anjos de vestidos de rosa
E em anjos que tocam a campanhia ou o telefone na hora certa.
E te levam para onde não deveria ter saído.