Monday, December 25, 2006

Dois posts, natalinos, ou não

I

Eu digo adeus, apenas para soar um pouco mais breve
Do sem-fim que isso aparenta ser
Giro, giro, giro uma caneta vazia
Sob o papel vazio
"É a noite que se veste de azul", ela dizia
"Sou eu que me abraço aqui, na quina dessa esquina
Na beira dessa calçada, sou eu, que, cansada também
Te abraço, como se isso trouxesse algum conforto
Como se isso trouxesse o nosso sorriso de volta à estante
E você sabe, não é...
É a noite, também, que se despe do azul."
Porque as palavras são muito mais fáceis de se manipular
Quase dizer dos amores e dos fracassos
Jamais será untá-los, em fôrma de nada, e junta-los n'um futuro qualquer
É quando a soma do todo é menor que as partes
Eu tenho visto o que isso tem feito de mim
Por isso, te digo, mesmo, o adeus, devera, enfim
Que seja mais brusco o intervalo
Entre o desfraldar do lenço, e a porta batendo.

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II

E eu digo a Deus, que passe um tempo mais
fora de casa, porque estamos bem, e é, já é tarde.

Da esperança fizemos um presépio, uma noite,
um alento, uma estrela guia, um labirinto
uma perdição, uma reza oca, uns pares de olhos estrábicos
um retalho, uma colcha, umas ovelhas, um choro rouco
uns magos sem magia, um pastor, uma virgem santa,
um pedaço de argila, um pedaço de papel,
um pedaço de filme, um pedaço de conto
uma luz que desceu de algum lugar além daqui.

(Estava escrito, colorido, tingido, imprimido, impresso)
Que os dias cairiam bem aqui
A virtude: a benevolência
Os dias, os vintes, os cincos, cairiam bem aqui
No bolso do senhor do mundo de lá de fora e daqui de dentro

Orávamos, sentados ali, quando uma estrela passou atrevessada
fez a curva mal feita, tangenciou o céu azul
fechamos os olhos, então os abrimos, abrimos os
presentes, o presente, de embalagem vermelha, de
soluços compulsivos reprimidos, isolamos
a voz do vento lá de fora com uma janela fechada,
tapamos ouvidos, cantamos gritando contra qualquer um, coisa, além de nós,
trancamos, então trituramos, a chave do coração, já apertado,
pedindo a um alguém que o mundo fosse melhor da próxima vez, do próximo instante, do próximo ano.

No tal dia, da discórdia, benção, rendenção
Na tal glória, do juízo inicial, final, e o do meio.

Tuesday, December 19, 2006

Dois posts, para comemorar o fim da abstinência poética.

Completando o título: talvez eu realmente estivesse precisando de um pouco de literatura. O pouco que li de "Crime E Castigo", de Dostoiévski, de certa forma, renovou minhas energias.

E lá vão dois poemas, paridos logo após a nebulosa trégua, dessa constante guerra que é escrever.

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Equívoco

"Estou errado em querer me curar em suas feridas?"

Minha pergunta cortou o ar como luz em fresta de janela
E sua boca aberta nem murmurava, nem sussurrava

Até que "é a hora de mentir, e você sabe tão bem quanto eu
Que mentiámos, e nos julgávamos, o tempo todo"

Era eu, pensei, que colhia palavras saindo de casa
E a caminho daquele encontro, era eu que colhia
Palavras e frases feitas, para então esquecê-las
A caminho do fim

"O sol está nublado, como sempre, como sempre essa nuvem vai
encobrir nossos pensamentos, até que nos agasalhemos, e encaremos essa chuva
e caminhemos para nossas casas"

Mas você era inquieta também, e bem sabia como
Dizer o que queria, de fato

"Sabe que poesia não salvam as pessoas, que estamos tão longe dos livros
E longe de qualquer idealização, pseudo-romântica. Você sabe que eu te quero, tanto quanto qualquer
besteira grande e pomposa a qual eu possa comparar o nosso amor. Mas você sabe que eu não posso te querer, também..."

E eu sabia que estava errado em querer me curar em suas feridas.

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Ae Revouir

Não, você não pode amá-la
Não pode trazé-la à luz pela mão
Se os braços dela estiverem cruzados

Não pode dizer ae revouir ou eu te adoro
Quando ela estiver perdida n'um abraço de ontem
ou
Quando ela amarrar o riso e o laço apertar-lhe o pescoço

Não, você não pode atacá-la
A cada dia que ninguém disser nada
E que do silêncio não se fizer consentimento
E que do silêncio se fizer ressentimento

Não se atreva, você, também
A atá-la pelos pés, toda vez que ela fugir
Quando alguém esbarrar nas beiras da verdade
Porque ela irá...

Por mais que os caminhos que ambos, vocês, cruzem
Sejam círculos em labirintos viciosos
O retalho viciado não se curou
Mas você também fará de conta que sim

Afinal, a hora mais indicada para dizer adeus
É agora...

O 'de novo'
Para chama-lá pelo nome amanhã de manhã
E acordar com o barulho da porta, pelo vento, batendo no quarto vazio.

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Sim, os temas são parecidos... E dai? =P