Wednesday, December 31, 2008

.

demo tape 06

eu devo ainda ser muito do que eu não quero ser mais

mas estar ciente disso deve ser um bom começo

eu acho

espero

Thursday, December 25, 2008

nd n

demo tape 05

c'ainda quer saber porque isso dói?

isso dói porque ainda quer saber

Monday, December 22, 2008

assim

demo tape 04

hora de partir
está em casa ainda
despedida sem tanta saudade
acumulando-se em tufos de poeira pelas vielas sem varrer.

meu lado que grita desaprende de ver do céu as coisas que ele precisa ver para estar aqui
rezaedesesperaaindaassimcontudo, para as estrelas que... não faz idéia se tem nome
ele diz com tanta certeza que não quer mais que me convence por um segundo negativo
daí lembro que isso não existe

hoje cedo chutei as paredes do quarto até aranhas caranguejeiras caírem do teto e



e foi então que eu descobri que eu não sabia mais o que dizer, e, naquele ponto. eu resolvi parar de sentir saudade daquilo, para sentir saudade disso.

Saturday, December 20, 2008

quase randômico

demo tape 03

a minha alma está em partes
partes diferentes que guardo conforme quero errar
partes iguais tingidas, e que eu quero dividir

eu queria mesmo era que a minha alma
estivesse em toda parte
que eu queria estar
mas até lá, eu vou estar separado e separando
me e os dias que quiser gritar
digo, esquecer o que eu vier a gritar

(as frases que guardo estão em parte de mim também
as que ouvi dizer e as que fí-lo eu mesmo
essas sim estão espalhadas pelo ar
que as vezes ainda tento respirar
essas sim estão por toda parte
no abraço que faço você dar por mim
saudade que digo que os outros sentem
ah, tão pouca verdade eu tenho carregado
e digo que estou bem, que estou bem
mesmo que esteja, querendo dizer
com diferentes letras e idéias
que o mundo inteiro eu queria ter
querer que o mundo inteiro tivesse um pouco mais
de gente do que eu, você, ela, ele
porque quem sabe assim...
quem sabe assim):

fechei a hora e a parte errada, como sempre

Monday, December 15, 2008

cansei

demo tape 02

sua voz só faz sentido
se está frio e tarde e ruim
ma'disfarça e vamos dobrando esquinas
e bilhetes, e vamos colhendo
o que temos:

o que quis ontem
o pedaço era outro
o que eu mesmo está lá
aqui nunca

e eu sei que digo e disfarço mas
faça o contrário ou o que quiser
faça nada, é segredo agora
está frio e tarde e ruim
e a última coisa que quero é fazer sentido

Monday, December 08, 2008

prelúdio

demo tape 01

vou te dizer umas histórias e pouca verdade você irá tirar delas. só
espero que quando a hora chegar, saiba você que eu escondia, sim,
principalmente as coisas que eu sabia que me custariam muito. as que me
seriam deveras complicadas de proteger, eu enterrei, e as que ainda
estão por aqui, escondi tão bem que nem me lembro mais onde estão.
as coisas que eu vou dizer aqui são segredo até para mim mesmo, e vão
continuar assim até eu realmente ter vontade (e entenda isso como
capacidade, em sentido de limitação mesmo) de dizê-las.

Thursday, December 04, 2008

eu desespero
tu desesperas

eles esperam

Monday, November 17, 2008

2 terceiras Pessoas

hoje eu acordei e lembrei que você em breve vai embora. em breve esses quarteirões que nos separam serão um céu inteiro ou punhado de 50 kg de terra e alguns milímetros de madeira. enquanto essa fina brecha de janela deixa o ar úmido e frio da chuva que caiu há pouco bater no meu peito descamisado, e fico aqui pensando que agora são um quilômetro ou dois que nos separam, e que amanhã de manhã serão apenas uns metros, e que em alguns segundos ou minutos do dia nossa distância será resumida à camada externa que separa os meus átomos dos seus. e lembro a cada sílaba que escrevo nesse papel que essas coisas são temporárias, e que daqui a pouco isso será muito ma... e eu entendo a sua mágoa e dividimos a saudade que passou dos tempos que éramos nós que dizíamos "agora é minha vez". falo de lembrar... e penso no dia que só que terei de você imagens esparsas de uns momentos bons e ruins, de um bolo que deixei cair na grama, de uma boca sangrando o que nem sei mais, de sons aleatórios de você resmungando uma canção ou de eu te gritando para sair de perto de mim, ou eu te mandando calar a...

...

as nuvens se formam e chovem em cima de mim e me pego falando em voz alta, achando que você estará atrás da porta esperando eu te dizer para sair de uma vez. o quarto está vazio, e a televisão está ligada para ninguém assistir. as coisas estão organizadas finalmente após milênios, só para quando você voltar de uma vez novamente, e eu espero que ainda não seja a última, e que ainda hajam muitas e muitas, mesmo sabendo que um dia só o que vai voltar são as más impressões, meu nome que ouvirei sem ninguém ter me chamado, o telefone tocando sem... eu me pego assim com os braços doendo e a cabeça fumegando cansaço e dor, e encaro o teto vezes o suficiente para me certificar de que ele será o mesmo pelas próximas horas. começo a suar, ainda que esteja, como disse, frio, e que as janelas estejam sempre abertas, e vou tirar comida da geladeira para fechá-la logo em seguida, afim de ter a sensação de no momento que eu bato a porta dela, será você virando a chave e trancando a rua do lado de fora. aumento o volume do aparelho de som, e começo a cantar distraidamente, ainda que em momento algum eu realmente esqueça totalmente de mim ou de você. eu realmente espero a cada instante tomar um susto com você já trocando de roupa e rindo da minha cara enquanto banco a retardada me fazendo de Janis... só que dessa vez sem sustos, ok?

...


e eu te digo bom dia, e você está se encaminhando para o outro lado da sala, com alguma cara que me é desconhecida e planejo te perguntar o que é mas desfaço a pergunta. a semana se passa e a sua cara se repete e as perguntas continuam se desfazendo. eu te pego pela mão e sorrio, e lembro que você sequer veio hoje. dou de cara com os braços vazios à sua porta e digo que não vamos mais matar aula para sua mãe, e que sinto muito, sem saber o que sentir. porém, parece que foi você que tinha aberto, e foi você que disse "eu também". foi para o seu quarto que fomos assistir desenho animado, e a sua mãe só bateu a porta trazendo pipoca e guaraná. e na hora da saída te pergunto dele, e você diz que jamais, e juntas repetimos, "jamais", conforme nós vestimos nossos casacos de novo, e você me promete guardar segredo, e eu prometo e guardo. e nos juramos abraços que saberíamos negar no futuro, ainda que você tenha se saído muito melhor que eu quanto a...


...


o telefone quer tocar, e eu sei. eu penso em ligar para ela, ainda que sejam anos sem notícias. os anos de silêncio que eu insisto em esconder aqui. de quando guardávamos juntas o que temíamos e cavávamos, e enterrávamos juntas nos nossos quintais o que tínhamos de mágoa e desespero. agora me é impossível medir o quê e o quanto nos separa. eu grito para dentro tão rouca o que quero dizer pra ela, que me arrependia de ter implodido tantas pontes e cartas, e que se você se for eu só terei a ela, e às vezes acho que ela deve ter me esquecido, embora saiba que isso seja impossível. por mais que eu merecesse. e eu acho que sempre vou precisar del... e você não chega e eu começo a te odiar. e à essa altura eu realmente já estarei te odiando. ainda mais do que eu o faço agora e muito menos do que você mereceria. e os telefones passam as próximas semanas e meses sem tocar, e eu enfim já tinha desistido.


...


queria que você estivesse aqui. ele nunca.


...


eu acordo nessa manhã lembrando que daqui a pouco você não estará, e sinto uma saudade com gosto de desespero. um desejo com angústia e pressa de aproveitar e estar aí contigo e de ter perdoados, em um abraço, de antemão, os pecados que eu sei que lhe vou cometer nos próximos anos. sinto que quando te ver eu aproveitarei de forma fútil, inconseqüente e medrosa o tempo que tivermos, e vou lhe dizer "não" vezes demais. e agora-agora? o que posso querer é que você esteja dentro de mim até a consciência de quem eu sou se apague completamente. eu acho.


e, e eu acho que acho que é só saudade. e espero mesmo que seja só.

Monday, November 10, 2008

eu acho

na verdade eu acho que poesia é uma coisa meio espiritual mesmo. uma questão de não estar aqui, mas lá, ainda que se esteja aqui, factualmente falando. comungar consigo mesmo e assumir que o que se está contemplando ou almejando atingir não é nada em específico... à não ser a paz que se sente quando percebemos que não é preciso dizer nada.

Tuesday, November 04, 2008

Que cada vez que acordo eu juro eu posso jurar
Que um dia faz de mim o que quer e eu quero
Que desesperei e com amor teu vício amei
Que luz e luz são vida e eu e você é sorte

Que bom era o que já passou eu já sabia estar passando
Que pesei às minhas costas menos do que pesaram às suas
Que nuvem cai quando quero um céu distante de quedas
Que dia faz que eu soube um sim sem saber o que então fazer

Que toda vez que eu durmo eu posso prometo uma última vez
Que o dia fez de mim o que quis e eu nem
Que exasperei e sem esperar eu te esperei
Que luz e luz apagam com o eu e você

Wednesday, October 29, 2008

procurando o que dizer

se os próximos segredos que vou contar

são secretos o bastante

Monday, September 22, 2008

tels (outra canção)

o que é dito é o que não se diz
o que é dito é o que não se diz em três palavras
o que é dito é o que acontece conforme
o que se entende por tempo passa
o que há pra se dizer não se faz com sujeito, pronome pessoal e verbo
o que há pra se dizer se dissolve disforme enquanto
o que está sendo dito não importa tanto
o que é dito é o que se diz quando se quer dizer outra coisa e
o que fazemos para demonstrar isso é não dizer
o que é dito é o que eu quero, mas estamos longe demais disso, então
o que eu vou fazer é querer dizer e guardar
o que é dito é o que eu firo e protejo
o que é dito é o que eu firo e protejo
o que é dito é o que eu firo e protejo

Tuesday, September 16, 2008

this is a love song

vamos respirar
vamos estar errados
vamos ficar encharcados de suor e chuva
vamos esquecer que devemos esquivar
vamos proteger
vamos desconter
vamos jogar dados e acertar a hora de dar certo
vamos gritar todas as palavras que acabamos de aprender
ao vento
e deixar elas nos acertar o rosto
e sangrar e lagrimar
o que ainda temos de vivo

Sunday, September 14, 2008

estou quase lá

pois estou aqui bem agora fazendo exatamente o que eu não devia estar fazendo




mas me sinto muito bem com isso




acho que isso é um bom sinal

Wednesday, August 20, 2008

com

o tempo todo ela me disse as coisas certas. o tempo todo estávamos certos. pensei que estava errado mas logo o medo se foi. ficou a tragédia. ela me disse que tinha mas é como se não tivesse, então acho que tínhamos coisa nenhuma afinal. acho que devíamos ter começado a procurar. o tempo que tenho é um relógio de pulso no fundo do oceano. e eu mesmo sou uma criatura abissal, sem luz ou fosforescência. o que ouço são minhas memórias, e elas estão começando a falar cada vez mais baixo. ela sabia sempre a hora certa. de parar. de seguir. de ficar. de estar. ela cantava mal. estávamos certos sobre estarmos certos. queria que fôssemos mais otimistas. até que ponto isso seria auto-indulgência e carocha, sei lá. faço uma idéia mínima demais sobre o que estou falando para continuar a fazê-lo. isso é arriscado. pois não quero falar.

Sunday, August 17, 2008

Sundae

acordei de cabeça pra baixo e ainda era de manhã. ela me disse que o sol estava alto, que o gato já havia cagado o quintal todo, que o brazil tinha perdido outro jogo, e que o pão tinha acabado. eu fui atrás de um cadarço para amarrar. chegando na esquina de casa vi 5 mendigos, há uma semana parados no mesmo lugar e na mesma posição. a fila do mercado estava grande, e vi duas crianças de 35 anos chorando por qualquer coisa. a rua estava deserta e ainda assim eu quase fui atropelado. e lembrei que tinha deixado os biscoitos Trakinas no caixa. escolhi voltar atrás. caminhando de volta pra casa passei de novo pelos mendigos, e agora senti um cheiro de comida estragada. mas comida de terreno baldio, e não das que se come em mesa de cozinha ou sala de jantar. bati o portão e passei pelo quintal, e tantas folhas se esfregavam em meus ombros, e tantos percevejos eu decapitava com minhas pegadas, que mais cheiros desagradáveis vinham à tona. a manhã era curta, e eu já não tinha certeza de que em dia estávamos, e uma sensação... bem, eu achei que devia estar trabalhando àquela hora. perguntei para ela se não estávamos atrasados, e ela disse que sim, e eu fui tomar banho. mas enquanto estava no banho, ouvi a televisão da sala ser ligada. saindo de toalha amarrada molhando a casa, a vi deitada dormindo no sofá quase vendo um programa lá, e acho que era programação dominical de tv aberta. então era domingo, afinal. me vesti para o trabalho, atei a gravata, passei meu tônico anti-caspa e sai às pressas. esqueci que ônibus pegar, que esquina virar, e só cheguei suado e fedido numa praia, onde mergulhei com roupa e tudo, e então resolvi voltar. ela já estava acordada e disse que ia fazer miojo porque não havia mais nada nessa casa para se cozinhar. eu disse que sim e que não, e que estávamos definitivamente atrasados, e ela disse "ok". estendi os pés no sofá quando tive uma idéia, peguei uma escada, subi no telhado e fiquei lá tomando sol de canudinho na lage. o almoço estava pronto, eu desci com cuidado, e ela tinha posto meu prato na mesa, e ela não costumava fazer isso e perguntei o que havia de errado. e ela me disse em tom displicente e irônico: ''ainda estamos atrasados, lembra?''. mas começou a rir logo em seguida, e me olhou. e eu a encarei e lhe disse uma frase que eu não dizia há muitos anos. e eu liguei a tv, e deixei bem alto o seu volume, enquanto ia no quintal pegar um tijolo com reboco de um pedaço do canteiro que nunca terminamos de construir, e voltei e joguei ele com força a precisão no meio da tela. a televisão fez um barulho estranho, soltou um cheiro estranho, e nós rimos de maneira estranha disso. e eu disse que estava tudo bem e ela concordou. mas que nada disso alterava o fato de estarmos atrasados. peguei o telefone sem fio, os celulares e o laptop, joguei na privada do banheiro, dei descarga, e a peguei nos braços e fizemos amor. cochilamos e acordamos no final da tarde. eu me vesti, subi no telhado de novo e vi as primeiras estrelas aparecerem no céu da noite. mas moramos no centro de uma cidade grande, e aqui as estrelas são tão minguadas quanto os bonsdias, e o que eu realmente via eram borrões opacos de cor azul pálida que eu devia fazer esforço com a vista para conseguir admirar. me refletia nos olhos as luzes de um grande relógio à distância, daí ouvi um barulho estranho, e ela estava subindo para me fazer companhia no telhado. víamos cachorros suicidas se jogando dos terraços dos vizinhos, ouvíamos adultos de 5 anos de idade querendo não ter que parar de jogar bola na rua (e agora já era madrugada), enquanto nós mesmos refazíamos planos do passado, desenhando mapas e bonecos de palitinho coloridos com giz de cera. mapas que nos levariam para qualquer parte, pra qualquer lugar que quiséssemos ir. Acapulco, Florida. bonequinhos que sorriam e se abraçavam e andavam de mãos dadas na rua, que tinham uma casa cor-de-laranja, onde moravam com seus filhos e seu cachorro Labrador. mas foi então que de repente ela disse que já estávamos atrasados e que agora era tarde demais. e eu concordei. descemos do telhado sem usar escada alguma.

Thursday, July 31, 2008

veja bem, aprender a amar foi a coisa mais estranha que me aconteceu. tanto que eu não aprendi e fiquei assim. tentei tentar quando devia me prometer, e correr nas horas que eu deveria estar abraçado. mas isso não é sobre o que eu já tinha dito até agora. aliás, nada disso é sobre coisa alguma. há coisas que não podemos tocar e elas continuarão intocadas, e por mais que estejamos distantes da hora certa, elas estarão lá, as que tinham acontecido ou que estão para emergir. e por mais que você aperte o peito com força, e preencha de significâncias àquele momento posteriormente, não seremos capazes de saborear mais nada. minha galáxia crepom preta, de porpurina ao invés de estrelas, de insuportável proximidade ao invés de distância-luz... estaremos divididos demais, entre nosso lado afetivo-sepultado, entre o certo-errado, e entre o que eu estou prestes a te dizer agora, mas que não direi. e só irei dizer "não" mais uma vez pelo simples prazer de me privar.

Wednesday, July 02, 2008

e, em um belo dia, quando o céu estiver mais próximo do que jamais esteve
você prometerá estar sempre ao lado dela

mas você não estará
e notará, no dia seguinte, que o céu estará no mesmo lugar que sempre estivera

e então você passará boa parte do tempo que lhe resta aqui se perguntando
quem se afastou de quem

Friday, June 27, 2008

s

é engraçado pensar que
os outros pensam que
ele esta aqui e que
ele vai dizer as coisas que
os outros precisam ouvir, e que
ele só faz isso por eles, ou por algum amor distante, e que
é comum ele parar ali, e que
não é nada anormal ele gastar umas horas da vida dizendo que
as cores que ele via eram destoantes do que
ele gostaria e acreditava que
fosse o resto das coisas que
o rodeavam, e que
rendo ou não, no final inacabado que
não fazia sentido, é engraçado pensar que
ele que
ria dizer algo especificamente, e que
aquilo precisava ter um sentido, sendo que na verdade o verso está em branco porque
a parte hilária é chegar a conclusão que
eles realmente pensam que
ele respira porque
é normal respirar, e não porque
ele precisa ou porque
ele que
r

Wednesday, June 25, 2008

gago

Em um dia se desfez
Que eu diluí em minhas palavras
alguns segredos e então
misturei com o que eu encontrava
mas acontece que eu encontrava
qualquer coisa que eu encontrava
umas coisas a mais para desmentir
eu encontrava para poder desmedir
para desmentí-las
e parar para o segundo e saber
perguntar o caminho para Babylon
para aprender a perguntar à
um jornaleiro qualquer e
de uma vez aprender a saber
o caminho para o qual
eu apontaria o dedo indicador e
poderia dizer enfim que seria este
ou aquele, e seria assim que eu te diria
e que seria assado o que eu esconderia
e descoloriria o que eu viesse a tropeçar sobre
e descobriria o que eu viesse a destroçar sobre
um mundo inteiro de pedaços que ainda
(mas espero mesmo um dia)
tenho
um dia inteiro pela frente
e o rio que cai ignora a gravidade
e é para o céu que isso vai e são as
estrelas o chão, e o chão, mas não o teto
que se faz de barro e azulejo
e eu encontro, e, um pouco
fecho por entre as mãos
(em forma de concha)
observando de soslaio
pintando um sorriso bem breve nos lábios
o brilho estelar do grão de areia
que ainda agora caiu sobre meu colo

...

esperando que
o que restar da gravidade
nos leve para longe das órbitas dessas
vidas que de quarta à terça
a gente faz girar com a mesma vontade
que mordemos cacos de vidro e
esperando
que o que tiver de brilho ainda
faça essa palavra se dizer por si

digo
acompanhada
de vez
e de uma vez
por
tudo
as opções
acima
são falsas
ou verdadeir
as
vezes acho que sei o que eu realmente devia querer
além de
você
(vírgula)
é
claro

Thursday, June 19, 2008

você chegou cedo demais
você chegou tarde demais

você chegou pontualmente demais

Thursday, June 05, 2008

Ainda Pt. 2

deixe eu ter seu lado mais negro
obscuro, disfarçado, dessentido
o lado que você não escolheu para ser
o lado que outros poderiam ver

deixa eu ver a sua indecisão
e a sua dúvida quanto ao que mentir dessa vez
o lado que você fingiu realmente ser
o lado que você queria ter

e você irá apontar o caminho com estrelas nuas
e nenhum de nós irá brilhar, de noite ou de dia
o lado que você não escolheu para ser
o lado que outros poderiam ver

e você irá dizer que é medo, é errado, é estúpido
e confuso, destroçado, desmedido
o lado que você fingiu realmente ter
o lado que você queria ser

e ainda assim eu vou querer ver

Sunday, May 11, 2008

Five Little Boats Kept Inside A Margarine Pot

Uma, três, cinco dobras
Digo dois, você diz quatro
e então seis, aqui está

O frio está em gotas
O papel em alto mar
Embaço, meu, seu
Nomes, temos assim

Quanto tempo mais?

Dois minutos, ok
Segure aqui, diga xis
Diga bis, diga o que você
Não quer, e então diga
O que você mais quer, e
Então diga se você me quer

Tenho em mãos, as suas mãos
Cinco barcos e dois braços, e você
Some, em tempos assim

Quanto temos mais?
Quanto tempo faz
Que você passou
Que você esteve aqui

Friday, May 02, 2008

pêndulo

precisamos ir pra algum lugar, baby
precisamos ir pra um lugar muito distante
distante o bastante das coisas que já fizemos
distante em um instante de nós mesmos

longe daqui, e desse riso que guardamos
breve e tênue, como... como aquela lembrança!
vai planando no ar, pendulante à nossa frente
mas tocá-lo, nem eu nem você conseguimos
muito mal sabemos querê-lo aqui presente

vamos para longe daqui, e agora
lugares novos, livres de saudade e horas
e secretos, como o tempo que não temos
escondidos entre pedaços de bolo e selos
escondidos entre pedaços de sonho e vê-los
voar desajeitados - com uma asa a menos

longe daqui, e desse peso que guardamos
escuro e bruto, como... como a insegurança
que caía entre flocos de neve e pesadelo
que tocávamos pra fazer de conta a esperança
mas no final dos versos que acabamos por sê-los
acabamos e acabamos por sê-los
acabamos por sê-los, acabamos por
for

por um distante o bastante das coisas
por distante um o bastante coisas das
baby, longe daqui riso guardamos que
baby, secretos como o não temos se
vamos ser adiantes longe de a aqui
escuros, brutos, novas saudades, parti
distante o bastante das coisas que não fizemos
distante em um instante dos nós mesmos

Monday, April 21, 2008

bleu clair

Quando você me disse para dizer adeus, eu pensei que era algum tipo novo de brincadeira ou peça a ser pregada, então fechei os olhos e disse: adeus, adeus mamãe. Era já a manhã seguinte, e a porta do seu quarto continuava fechada, trancada, e dei batidas leves contra ela, com medo de te acordar com um susto e te deixar mal humorada tão cedo. Sem resposta de volta, passei a bater mais forte, e assim progressivamente, até minhas mãos doerem a um ponto que pensei que iam começar a sangrar sem parar. Cessei as batidas, e meu coração apertou e eu comecei a chorar copiosamente. Na rua uma banda, dessas baratas e meio desafinadas, começou a tocar umas canções, provavelmente contratadas para celebrar sem naturalidade a reinauguração daquela farmácia velha dos Almeida.

Caminhei rumo a janela e da ponta dos pés eu vi a cantoria do coral de senhores vestidos uniformemente. Três deles estavam encarregados dos instrumentos de sopro enquanto outros dois faziam as vezes dos instrumentos de percussão, um batendo num bumbo, ou sei lá o quê, que era quase metade de seu tamanho e um outro rufando dois pratos, creio que para fechar ou abrir os compassos. Prestei atenção no ar de desagrado que vinha do olhar do coral de senhores, e o tamanho era seu esforço em soar agradáveis e felizes, que me lembrei do último jantar que você tinha me obrigado a ir na casa dos meus avós. Eu me recusava a ir, mesmo sabendo que era o aniversário da minha avó, e que ela estava por completar 80 anos de vida “muito bem vividos, senhorita”. Mas é que aquela casa e o que ela significava me apavorava sempre, mesmo dentro de meus pensamentos mais aleatórios. As palavras dela ecoando em minhas memórias, como “a minha vida me dá muito orgulho”, e “espero que você tenha metade da felicidade que eu tive, Mimi”, me traziam sensações então indescritíveis, que somente muito depois pude descrever como pena e remorso. Pena porque eu, mesmo que inconscientemente, sentia que as coisas que vovó dizia eram mentira. Mentira, digo... ela não parecia realmente feliz com a vida de aposentada, inválida, naquela cadeira de rodas. Por mais que ela dissesse o contrário, e que meu avô com veemência concordasse com ela. Remorso porque mesmo sabendo e sentindo essas coisas, eu não conseguia ser uma neta mais agradável. Quero dizer... eu não conseguia me sentir bem dentro daquele lugar, antigo, que remetia a um passado que eu jamais vivenciara, com fotos de pessoas das quais eu só tinha comigo histórias mal memorizadas, pouco fixadas mesmo após inúmeros detalhes narrados repetidamente ao longo dos anos. O passado, de um jeito que não defino com precisão até hoje, nunca me fez bem.

Mas lá estávamos nós, sentadas na sala, você contando as últimas novidades, mesmo elas não sendo tão novas assim. O “sem notícias” do meu pai; a alegria de minha avó ao ouvir isso (de você eu nunca conseguia distinguir o alívio da saudade com relação ao meu pai); comentários semi-aleatórios, como sobre as minhas notas na escola, que andavam regulares, porém sem grandes feitos ou surpresas, e o meu avô como sempre repetindo o mesmo sermão, de que eu para ser uma boa menina deveria me importar e dedicar me mais aos estudos, pois a minha “mãe” gastava tanto do dinheiro dela para nos sustentar, e que na minha idade, você só tirava nota máxima na maior parte das disciplinas... e assim por diante, como se eu realmente estivesse absolutamente alheia à vida que eu mesma tinha com você, ou como se realmente nunca tivesse ouvido antes as mesmas palavras, tão decoradas como um refrão. Já tinha 7 anos, mas continuava sendo subestimada da mesma mecânica maneira desde os meus 3 e pouco, que foi quando os conheci, não é?

Você comentava em contrapartida, talvez sob o intuito de compensar algo ao ponto de vista deles, que eu me tornara uma grande aspirante a pianista, e que o seu velho piano não estava mais abandonado na sala de estar. E com um estranho misto de espanto e subestimação, eles me pediram para tocar um pouco para eles no piano da sala, que estava desempoeirado menos pelo ânimo de alguém ali tocá-lo com freqüência que pela obsessão por limpeza e organização de minha avó. Eu, que fingia prestar mais atenção ao casal de bonecos que tinha levado comigo de casa que na conversa que vocês travavam, sentada sob um tapete velho no canto oposto da sala, ouvi o chamado e encaminhei-me, já esperando que me solicitariam uma peça musical desde que vocês começaram a tocar no assunto. Desde nova sou insegura e desajeitada, e estava nervosa de antemão. Sentei na cadeira que vovô ajeitou, e dedilhei a primeira das duas únicas canções que você havia me ensinado até então. O tema simples e introdutório daquela melodia de Bach realmente era missão fácil de cumprir. Tanto que mesmo meus avós enxergavam com moderado entusiasmo o que eu fazia, e assim ficaram até você dizer que havia me ensinado a música há menos de uma semana. Provavelmente foi aí a vez que mais ouvi elogios da parte deles para minha pessoa, pela minha vida inteira. E os planos recitados e promessas randômicas citadas, de que quando o tal dinheiro que estaria por vir enfim viesse, minha avó me arranjaria aulas com um antigo professor amigo da família, sem ter certeza de que ele ainda lecionava... e assim por diante.

Comemos dois pedaços de bolo, e você voltou a conversar com eles, e hoje e vejo com admiração a comunicabilidade que você e meus avós tinham... coisa que jamais pudemos ou tivemos tempo de cultivar... Enfim, a noite não foi tão desagradável, e passou um pouco mais rápido quando me sentei ao piano, e lá fiquei brincando, pois ele me distraía melhor do que aqueles bonecos que eu tanto já tinha mordido e que já estava enjoada de estar enjoada. Saímos rápido de lá, torcendo para não perder o último ônibus, pois você precisaria estar no seu serviço no dia seguinte bem cedo. Correndo pegamos um pouco de garoa, a condução logo chegou e uma vez sãs e salvas dentro do ônibus, deitei no seu colo assim que nos ajeitamos nos acentos, uma do lado da outra. Passando a mão pelos meus cabelos e sem me fitar diretamente, você mantnha um olhar perdido em um ponto distante, muito além da janela do ônibus. Chegando em casa a chuva desatou a cair de vez. Depois de trocar as roupas molhadas e a bota encharcada, eu me deitei primeiro. Entrei no meu quarto enquanto você arrumava sua bolsa para o trabalho, e só então notei que havia esquecido os bonecos na casa dos meus avós (pois vi minha cama e lembrei do lugar onde eles costumavam estar). Eu sei que no dia anterior eu me abraçara e eles, e que se eles estivessem ali, eu o faria novamente, e que eram imprescindíveis para eu “pegar no sono”... só que aquela chuva caindo, eu simplesmente me jogando no colchão e "desmaiando", e você vindo me trazer um cobertor a mais, pois, mesmo adormecida eu reclamara do frio em alto bom som...Você ali me cobrindo, e me entregando palavras que mesmo que sejam-me impossíveis de recordar com exatidão, trazem agora e sempre a mesma sensação de paz, intacta, que me diz que eu jamais poderia precisar de algo além da sua mão, para me cobrir, afagar e bater, e sua voz, para me culpar, desculpar, e cantar.

A banda tocou sua última música, e as pessoas começavam a entrar na farmácia nova, os músicos e os cantores ajeitavam suas coisas e caminhavam para fora dali. O cocker spaniel do vizinho do 303 se soltara da corrente pela centésima primeira vez, e corria pela calçada, parando e então atravessando educadamente a rua pela faixa, assim impedindo uns vários carros de dispararem rua afora quando o sinal finalmente abriu. Uma senhora vestindo um cachecol vermelho (mesmo que não estivesse tanto frio assim), velha conhecida do dono e de seu cachorro, por sorte estava do outro lado da rua, e segurou o bicho, esperando o senhor chegar. Logo depois uma bola alaranjada saltou de uma janela acima da nossa para a rua, em movimento de parabólico perfeito e eu a vi caindo no meio dos carros, que corriam indiferentes, e ouvi o estrondo forte da explosão dela quando um caminhão de entregas a esmagou.

A manhã tinha um azul claro no seu céu, e disso eu também me lembro. Após o estouro, a rua ficou em silêncio, tirando um ou dois transeuntes que volta e meia entravam na farmácia nova conversando alto. Ela estava lotada de cartazes anunciando promoções e descontos, e fiquei quieta o bastante para ouvir ruídos do seu quarto. Correndo contra a sua porta, evitei tropeçar em suas roupas jogadas do dia anterior, e mais uma vez bati com força, gritei seu nome, e ouvi um som leve, grave e rouco que parecia ser sua voz. Bati de novo, e de novo, e quando parei, já não havia som algum, e, naquela idade, eu não saberia o que pensar. Supondo que você tinha apenas e nada mais que um sono pesado, me aliviei por uns instantes, e caminhei rumo ao piano. Tirei a toalha verde e branca, com tomates pintados, que cobriam a tampa do seu teclado, e me ajeitei na grande cadeira, começando a tocar em dois, e três e finalmente em quatro acordes a nova música que você me ensinara três dias antes. Lembro-me muito bem que era uma canção para mim então de dificílimo aprendizado. Porém na hora esqueci completamente de qualquer dificuldade, e a executei com quase perfeição. Minha mão direita foi indo e voltando, e a esquerda recitava o tema principal timidamente, e assim repeti a melodia várias vezes, me distraindo e esquecendo do tempo, não associando por trás da melodia o que depois fui concluir ser o barulho ou da extensão do telefone do seu quarto caindo no chão ou de você mesma caindo da cama. Ou ambos.

Toquei, e toquei, e só parei ao ouvir da porta uma grande batida, de pessoas que pareciam estar com sérios problemas. Minha prematura intuição supondo apenas se tratar de uma emergência em minha casa, incêndio que eu não havia percebido, ou algo do gênero, pois pouco antes eu ouvira uma ambulância ou sei lá o que era, disparada e desesperada subir a rua e estacionar na frente do nosso prédio. Eu abri a porta antes que as pessoas achassem necessário arrombá-la, e já se passaram 19 anos, mãe.

Sunday, April 20, 2008

Sobre Caramujos Alpinistas Na Parede Do Banheiro

E diz que ”sempre” é duas vezes
Aquele dia formalmente dividido em 7 partes
Repete “tanto faz, um dia ou 9 meses
Fazem-me prisão e decomponho qualquer arte”

Eu estive além do muro, onde quem mente
Encontra a mais supremadivinacasta rendenção
E, sim, lá estive porque lá o fiz, “’sente?
Eu perco um dedo a mais cada vez que extendo a mão”

Enquanto a hora passa, o vento arrota
Vão dizendo que um dia você se atreve
E morre com 3 facadas diferentes, “sem porta
Aberta, ou certezas e convicções: jamais as teve”

Preste atenção! quando acabar, corra e não desate os nós
E associe esta lógica ao seu mais extremo sentido
Ninguém jamais dirá, e palavras em si não se dizem por si sós
A verdade é inogârnica e só grita ao pé do ouvido:

“Desejas-me quanto mais sabe que jamais me terás
Porém não me amas, pois não existo: o que é jamais será."

Saturday, March 29, 2008

.Eu

Vou aprender a dizer não
Vou aprender a beber água de chuva
Vou aprender a fugir quando precisarem de mim
Vou aprender a olhar pra trás (e cuspir naquilo que eu ver)
Vou aprender a rir de você (e nas horas mais inapropriadas)
Vou aprender a me esconder por trás do que eu deixar de dizer
Vou aprender a correr com desespero rumo a cada coisa que eu odiar
Vou aprender a ser falso e vil, e a usar o próximo em meu proveito, e a saber trair
Vou aprender apertar a vida contra o peito com tanta força que vai ela sufocar, praguejar e morrer
Vou aprender a desconfiar de quem eu amo até chegar a hora que deixarei de amar qualquer coisa que respire
Vou aprender a escorrer a minha saliva e sangue em cima da ferida dos outros (e depois jogá-las na cara dessas pessoas)
Vou aprender a fingir que sei que estou errado quando eu 'realmente estiver' (sem ter idéia de que eu possa estar de verdade)
Eu juro.

Wednesday, March 26, 2008

Sobre maçãs

Que nome mesmo você dá à inspiração, transcendência,
dedicação, rendenção... e essas coisas?
Você nem ao menos consegue tocá-la sem pensar em si mesmo.

Sunday, March 16, 2008

11º Dia

Agachei-me mais ou menos na direção dos trilhos para pegar uma meia-meia dúzia de pequenas pedras e jogá-las contra o lago, absurdamente quieto, e enfim testar se o resto do mundo estava inanimado ou se, por acaso, assim ele reagiria de alguma forma, pois já havia horas que eu estava deitado contra os trilhos, inclusive já havia dormido, acordado, tido pesadelos, e algumas dessas coisas aconteciam ao mesmo tempo e eu cantava canções para mim mesmo e tentava fazer o tempo ou coisa que o valesse passar, só que nada acontecia, até o ar parecia estático e, assim, foi quando eu saí dali um pouco, e fui mirar as pedras contra o lago e, parece, que haviam mais montanhas do que eu supunha, e elas eram mais altas do que qualquer montanha que eu jamais tenha visto antes, e a base delas parecia ser constituída de rochas amareladas, e o seu topo era levemente arroxeado, e, no céu, havia alguns trechos onde as cores se misturavam como quando chocolate quente começa a se misturar ao café, e as cores são distinguíveis entre si através de finas linhas distintas, que se entrelaçam em forma de espirais, ondas, etc, e, lembro-me agora, as nuvens eram verdes e púrpuras, e o lago era cinza, cinza escuro, e ela estava caminhando na superfície dele, aproximadamente no meio, e eu andei com calma pela praia em sua direção, mais surpreso por encontrá-la ali do que por vê-la naquelas condições, e deixei a água me tocar até os joelhos, e ela então parou, e, é importante dizer, olhando para baixo, com as mãos cruzadas para trás, na beira de sua coluna, e estava de lado, de acordo com o ângulo em que eu me encontrava, mas era fácil reconhecer seu perfil, com o qual já estava tão familiarizado, e, enfim, eu voltei a fitá-la, e ela estava lá, olhando para algo dentro da água, e, também, acabo de me recordar que mesmo vestindo meias, os pés dela que tocavam a água estavam bem secos, e, aliás, a superfície do lago não esboçava nenhum movimento, mesmo quando eu havia entrado em sua parte rasa, e, eu tentei socá-lo, chutá-lo, e nada era dado como resposta, nenhuma reação, e, nessa hora, notei que nada era refletido na sua superfície, nem eu, nem o céu, só havia o cinza, cinza escuro, e eu gritei com muita força, voltando-me uma vez mais para a direção dela, tentando fazer com que ela voltasse a se mover, como há então há pouco, e cantei o refrão de uma canção que amávamos, e xinguei ela de nomes que sei que ela odiava, mas ela continuava parada, e eu tentei adentrar-me no lago, e caminhar até a direção dela, e a água estava, até então, apenas batendo no meu joelho, quando meu próximo passo pareceu ser em falso, e senti estar sobre um abismo, e eu caí por um tempo que me é impossível tangir agora, e como tudo ao meu redor, e tive a sensação de que a única coisa que não parecia inerte em todo o universo, naquele instante, era o meu corpo a cair, só que eu, finalmente, depois, recobrei um pouco de força que eu devia ter guardado, ou que eu, momentaneamente, esquecera que possuía, e, com umas dez braçadas, atingi a superfície novamente, e saí do alcance do lago com desespero e pressa, e quando eu pude recobrar plenamente os sentidos e respirar novamente, levantei a cabeça e vi que ela ainda estava lá, na mesma posição, a fitar o fundo da água, e foi aqui que eu joguei a única pedra que ainda tinha em mãos em direção a ela, talvez em uma última tentativa desesperada, e eu tinha certeza que tinha mirado na direção correta, porém o projétil fez uma curva estranha no ar, em piruetas assimétricas, pequenos movimentos em forma circular, como se uma força superior me estivesse me impedindo daquele ato, e foi para uma direção totalmente oposta da qual eu tinha o jogado, passando por cima da minha cabeça e voltando à altura dos trilhos, e, então, o céu multicolorido de outrora se tornou negro, e trouxe nuvens, na verdade, talvez fosse uma única nuvem, enorme, colossal, que ocupava ele por completo, ou pelo menos até onde os meus olhos podiam atingir, e uma chuva fina começou a cair, e ela era estranha, pois tinha gosto de mel, e era fria, e ela se tornou intensa, e se tornou em tempestade, e só aí a superfície do lago demonstrou ainda conter vida por meio de intensas borbulhas, e um barulho forte começou a soar por trás de mim, e eu vi que uma locomotiva estava passando, com todas as suas luzes acesas, e um apito estrondoso cortou meus ouvidos, e por uns instantes nem a mim mesmo eu podia ouvir, e mais alguns segundos depois, quando a locomotiva parou, pouco a frente de onde eu estava no início, e eu voltei a olhar para o lago, e vi que ela não estava mais lá, e eu corri, sem pensar, para ver o que havia ocorrido, onde ela estava, e percebi que dessa vez eu podia andar sobre a superfície da água, como ela estava fazendo, e notei, ao chegar mais ou menos no ponto onde ela estava antes, que somente aquela parte da água podia refletir algo, e foi aí que, depois de um longo período de tempo, eu pude ver a minha face novamente, e quando isso aconteceu, eu parei, e me olhei-me, e me olhei, como jamais havia feito antes, como se o meu rosto tivesse mudado radicalmente desde a última vez que eu o vira, ainda que racionalmente eu sabia que pouco havia mudado, e, então, tive a sensação de que a locomotiva tinha voltado a pitar, ameaçando ir embora, e de que meteoros começavam a cair por todo o lugar, destruindo superficialmente o solo e fazendo a terra tremer, e de que um enxame de milhões de abelhas tinha surgido não sei de onde, já que não havia florestas lá, e de que o céu tinha se tornado um vermelho só, e de que o lugar começara a ficar terrivelmente quente, e também estava sentindo que tudo parecia estar de alguma forma acabando, e eu acho que ouvi gritos distantes, e outros sons que não sabia distinguir, mas eu não conseguia mais me mexer, eu estava parado, e parado eu só conseguia olhar para o meu próprio rosto, e não porque era belo, e não porque me trazia paz, mas porque... porque eu não sei.

Saturday, February 23, 2008

faz dois dias
assim
e eu
quis muito dizer
e saber
onde você está
como
você ainda está
você ainda sabe
esquecer o que ia falar.
você ainda
sabe de cor as cores
as quais dávamos luz.

Friday, January 18, 2008

otherwise

and now we're learning every mistake
and now we're back here one more time
and now we'll fly away from our nests
very fast, very fast, very fast, every burning cradle
we'll spit us back
and

you...
you...
will hold me very tight
very tight
tighter than the last time

and now you know why
why I took all the hell back
cause it's so much easier
to repeat our last steps

you...
you...
will stab me very deep
very deep
deeper than the last time

c'mom, take my hand
pretend and take my hand

Monday, January 14, 2008

A Despeito

deitado aqui vejo
você sabe querer
sabe infiltrar
no que se vê
e no que não tenho mais
e me diz assim, tão simples
é hora de partir

me diz o que passou
o que eu perdi
enquanto dormia
lá atrás
as horas eram tanto sono

serei eu o que eu fizer do que sobrar de mim?

Saturday, January 05, 2008

atmosférica

conclui
define
constata
reflete
pondera
esmiuça
contesta
recrimina
declara
dispara
relata
comenta
diz
pontua
opina
disfarça
revela
confessa
gagueja
sussurra
resmunga
grita
choraminga
esbraveja
implora
sua
escorre,
o etílico rapaz da contramão acerca de si mesmo .