Tuesday, February 17, 2009

here's to you

estamos sós na mesma fotografia
você encena uma despedida e eu penso em dizer oi
mas estamos sem tempo para sentimentalismos
ou de fazer o que nos der vontade

enquanto chove você fica perto d'aqui
e a marquise se encolhe de alfinetes
vamos nos abraçar mas esquecemos
nossos braços em casa
e o que sobra é o que dizemos
e dizemos nada

estamos a sós na mesma memória
temos tempo o bastante para estragar as coisas
ainda, você pensa, e pensa duas vezes
enquanto eu penso dezesseis, até finalmente
não termos mais paciência para frescuras d' carne e d'alma


uma vez me disseram que as coisas são mais fáceis
para o lado que quer dizer adeus
mas esqueceram de me avisar que elas são desumanas
quando ambos tem que dizê-lo
sem ninguem ter vontade de querê-lo.

e surpresa

.

*respira*

o tempo que torramos é o suficiente

a saudade que colhemos nos basta


só que há de desmedido aqui
é essa mania de (querer) dar certo

e a fobia do (que é) contrário


[dá série "eu gosto do óbvio". 'parte 09']
cansado de
se
ferir, resolveu
tornar
pro lado que

fere

(fazendo de conta que as duas coisas são tão diferentes assim)

para
pôr fim
na cantoria, decide
se tornar a audiência
calada

... (um lado finge que diz, outro finge que ouve;

mas no fundo estão fazendo isso mesmo)



[dá serie "eu gosto do óbvio, eu acho" - parte '03']

Saturday, February 14, 2009

up there

agora há pouco houve um tempo:
pessoas que se amavam se procuravam versos para dar-lhes umas às outras
Sofia saía de manhã pra colher gotas de chuva, exclamações e comprar pães
A parte boa do dia, sempre, ela dizia por debaixo de um meio sorriso
A tarde e a noite e a madrugada era o corpo inteiro dela que chamava
O universo que se reduzia à atómo para acarinhá-la e tê-la consigo
E os dois se guardavam, para si, para ti, para que o resto do mundo tivesse ainda sentido
A cada manhã que levantassem para continuar vivendo o tempo que lhes restavam
Então que Sofia saía de manhã, colher gotas de sereno e lágrimas, porque era muito bom
e triste que a vida estivesse tão cheia nela, antes que cheia de si, cheia no céu que caía na chuva, na gravidade, no meteorito, na nuvem e na névoa, na luz de sol e radiação lunar
Triste porque... porque sei lá, tem sentimentos que são tão grandes e sem nome que o melhor é dizer que são o que não são, fiapos de velha fantasia vazando sob a cama em pedaços de carne de um velho monstro já extinto
A vida que estava com tempo o bastante para ter tempo de sobra e gastar sua vaidade pura, desespero quieto, poesia eunuca, e ansiosa de despejar seu desejo cego e sincero sobre o(s) que amava.
E então Sofia saía de manhã sem pensar quantas manhãs seriam daqui pra frente, ou daqui pra trás, ou daqui pra cima... Sofia saía e queria muito que o resto do mundo saísse também.

Sunday, February 08, 2009

quiçá

e para quem chora para se lembrar que não é mais preciso sofrer
eu leio uma história de dentro de uma garrafa vodka
dum papiro que eu mesmo rascunhei em uma vida retrasada
que me insinuava que viver é a melhor solução para a vida
mas disso tenho tantas dúvidas ainda... tanta-tanta que é mais seguro me perder
e tenho vindo por esse caminho torto cheio de atalhos que me mais me atrasam
matando sede com água de pombo, e abraçando estátuas de pedra mijadas e pixadas
de praças que eu sei que ninguém visita em finais de semana
pelo o que sei o teto lá de casa era azul até outro dia
e o céu que era feito de lajes acimentadas e de amontoados de água de chuva
mentira, mal tenho tempo de amar e transar, quanto mais de ter comigo as coisas que eu quero
e que eu quero, eu quero é beber pra esquecer, só que só consigo lembrar e contrapôr
substantivos opostos, antônimos, e dizer que isso e aquilo é poesia
e dizer com conjuções conectivas que o mundo é o que eu digo e o que eu vejo
quando que mais sou uma barata, uma baratinha vagabunda viciada em Raid
tentando entender de uma vez por todas porque as estrelas ficam bilhões de anos
queimando e fundindo em seus núcleos hélio e hidrogênio

(e o que eu quero? eu só quero amar, porra
quantas vezes vou ter que repetir?)