Wednesday, June 10, 2009

levele

ocorreu me agora o quanto és bela
e o quanto este fato por si só é cruel
que a tua beleza jamais te servirá de repouso e abrigo
visto que a ela estás presa
e nada que prende pode ser seguro, pode ser branco
o que te consola é curto e acabará muito antes com tua juventude
e em futuras épocas de tristeza
antes de aprenderes a amar
a pureza silenciosa do que é assimétrico sem deixar de ser belo
este desiquílibrio vai te consumir em instantes mais rápidos
como se a cada queda ao chão a este tu familiarizasse-te mais.

evita alimentar-te de saudade, porque esta pesa
porque teu presente é pouco
e o passado, excesso, de acordo a tua prece
jamais serás tão bela quanto ontem, e amanhã será menos do que hoje.

desejo, contudo, que sejam menos estreitas
vossas razões para sorrir, um dia
e culpo menos teu peito e mais a civilização na qual vivemos
e grito porque estamos desesperados em ser breves
muito mais breves do que já breves somos.

Tuesday, June 02, 2009

já dizia o ditado

aqui não há deuses, há bandas de rock
o céu que riscara chuva há de riscar álcool etílico
as nuvens de elefantes à araras se tornam ventiladores de teto
o frio se estanca a grito, o abraço à colcha abafa o choro, a solidão mente o tesão
e a pressa é minha oração, além de que, meu deus, a pressa vai me salvar
o resto de mim que está para trás não vai me alcançar
vai, vai indo que eu sou tanta agonia quanto você
aponto e digo que amo, mas amo pouco, vou ser sincero
mais me visto do que eu quero amar, na verdade
mas realmente, vou me vestir do que eu acho que quero amar

e me trocar quão logo o amor se fure
e me trocar quão logo a roupa acabe

Monday, June 01, 2009

dois

espelho, abençoa-me e banha-me com teu mercúrio, pois
espelho, revelo-me a imagem que apagas ou
que devolve-me com má vontade suprema
espelho, deflagro-me teu reflexo mais inconstante
e cada mancha irremovível que irá pungir-lhe de agora em diante.

espelho que estilhaça-se contra o pulso, a vista, o chão e a sorte
apara para todas as direções a luz que te tocar o centro
quando este quarto deixar de ser escuro, por favor.

espelho aferroado ao céu desta cama desfeita
traz-me duma vez de volta a turbulência dos gritos da lua passada e diga-me
aonde se encaminham agora aqueles corpos sôfregos, mas trate de poupar o meu.

espelhos prestes a refletirem os lábios dela, aprisionai-os para mim
seja qual cor tenham neste instante
seja com qual saliva tenham se fundido ultimamente
seja que parêntese tenham riscado à tua superfície esta manhã.

espelho que quebra conforme meu punho atinge a própria face minha
esfarela mais do que minha imagem mal reprisada, além
esfarela mais que este riso ausente em meu rosto, amém.