Tuesday, September 25, 2007

Ode Aos Poetas

é, tá na hora, pega essa sua metalinguagem e enfia
uhum, pois é, enfia, pois pouco me lixo se você é poeta
se sente a dor do mundo, se respira o ar que as flores
mortas do campo trouxe... foda-se
não vou estar aqui pra cheirar o seu corpo putrefar
pelo triste vento caído do outono em cinzas
e não vou fitar o firmamento com palavras de conforto
de sentimento, de paixão e saudade, pelo amor que se foi
e não volta, a não ser nos seus sonhos, a não ser nas gravações da
secretária...

óooooooooo vida cruel...
eu cuspo o sangue
o sangue que escorre da lingua que eu mesmo mastiguei

ahhhhhhhhh...
é, mesmo, e isso aqui também não é um poema.

Friday, September 21, 2007

três pontos


meio que tudo isso é sempre agora uma maneira de então esquecer de mim para esquecer você, e, enfim, esquecer de novo de vez de mim (pra não me esquecer que esqueci você)

Thursday, September 20, 2007

Vinícola

- É que algumas pessoas, simplesmente nasceram para catar esses farelos melecados de saliva do chão, sabe?
-Mas isso era sobre o quê?
-Pessoas...
-Hierarquias sociais? Quem ascende, vence na vida, vai ao paraíso, ou quem "dá mole", se afunda e cai em ruína, se afogando...
-No próprio vômito? Hahaha...
-É, é sobre isso?
-Não, viajou hein? Mas agora nem sei porque falei isso... Sabe...
-Pense...
-Err... Ah, sim. Não foi nesse sentido, acho, que metaforizei esse...
-Esse...?
-Era sobre a solidão que eu falava. A Solidão humana. Estúpida e humana. Essa necessidade imbecil de se precisar estar com alguém.
-E aí. Por que estúpida?
-Porque seria... seria muito mais simples se fossemos auto-sustentáveis.
-Bem estilinho países europeus de primeiro mundo? Ou os EUA?
-É! Exatamente. Depender só de si mesmo para se sustentar, ou no caso, ser feliz.
-Você está parecendo petista elogiando a Petrobrás.
-Hahaha...
-Mas você sabe que isso não passa de teoria. Discurso de auto-afirmação ou papinho pré-eleitoral pra angariar votos. Claro, eu digo das duas coisas.
-É, eu sei...
-Então...
-Você sabe que eu só estava ensaiando uma tentativa de enganar a mim mesma, certo?
-Sim, claro. E você sabe que eu esperava que você admitisse isso...
-Hum...
-Pois isso tudo é só balela, papo peneira, veja, ninguém é isolado, auto-sustentável. Nem pessoas nem países. Veja Cuba...
-Lá vamos nós para a aula de Ciências Políticas... Ou de auto-ajuda, .
-Hahaha, desculpe, isso é chato pra cacete, eu sei.
-Até que não, he... Digo, a aula de ciências, claro.
-Sim...
-Sei que tanto ninguém pode estar só, quanto um país, e esse seu blablablá todo aí.
-Sim, exatamente. Já diria aquele cara que eu esqueci o nome.. Nenhum homem... err...
-É uma ilha?
-Isso!
-Mas não falávamos de solidão?
-Sim, e as pessoas se apegam facilmente a outras pessoas ou coisas que podem nem valer tanto a pena.
-E quem julga o que vale ou não a pena?
-Sei lá
-Talvez.
-É...?
-Vai continuar tentando falar dificile-metaforicamente pra me impressionar, ou enrolar, sei lá.. ou vai ser direta?
-O quê? Como? O que você quer dizer com isso?
-Eu que pergunto que você quer com essa ladainha toda.
-...
-Está com dúvida de algo e está jogando pedras ao vento, tentando acertar fantasmas no olho.


.. Certo?
-Mais metáforas?
-Anda. fala.
-É.
-Então digas do que duvidas, jovem pensadora. Que questão que indagas que te afliges?
-Pára.
-Ok, parei.
-Olha pra isso. Isso. Isso. Eu nem sei.. Nem, sei, nem sei, nem sei, nem sei como você é de fato que você quer fato, o que, o que realmente te importa de fato.
-De fato.
-Ha...
-Continue, please.
-Tsc... Veja bem. Nos conhecemos há 5 dias apenas...
-5 dias? Já vai fazer um ano!
-Conhecer nesse outro sentido. Esse aqui, de agora a pouco. E aquele, de ontem de noite.
-Hum... Isso é.
-Faz nem uma semana direito que começamos mesmo, com isso, e já...
-E já aconteceu.





- ...É
-E aí.
-E aí que não é assim que funciona comigo. Ou costumava funcionar até ontem. Eu nunca...
-Nunca ficou com um farelo melecado do chão, ... Isso que você queria dizer.
-Não! Não era isso...
-Então o quê?
-Sei lá... Desisto.
-Tente de novo.
-Não. E tire esse lençol de cima de mim, ele já esta me pinicando. Não roce seu pé tanto assim no meu também... Anda, tira.
-Fique calma...
-Já estou.
-Ok.
-...




-Assim está bom?
-Tá. Está muito quente aqui dentro para nos entrincheirarmos, em tantos panos sujos e suados...
-E melecados. E conspurcados. E ai, poeta, tem certeza que está calma?
-Sem sarcasmos. Sim, tenho.
-Então veja... você se julga solitária?
-Por quê?
-Porque acho que é isso que te aflige.
-A solidão?
-Também.
-Mais o quê?
-Julgar excessivamente e o tempo todo o que você sente... bem, isso é um outro aspecto a ser debatido e analisado...
-Ah...
-Você duvida se está realmente apaixonada por mm, e provavelmente você sempre tem essa dúvida, se está a gostar de verdade da pessoa em questão, pelo o que ela realmente é, ou se é só uma tentativa de fugir de si mesma, dessa sua carência...
-Lá falou o analista... não sabia que tinha cadeira de psicologia em Economia.
-É ou não é assim?



-Pois...
-Pois...
-Pois você está completamente errado. Essa sua mania de ser pseudo-analista te dá ideias precipitadas na cabeça. Um saquinho de equívocos, isso que você é.
-Se você diz...
-Você está errado.
-Então o que é?
-Isso não importa mais, eu já tinha dito que não queria mais falar nada... vamos voltar a debater economia, e pára de ficar metendo o pentelho onde não é...
-Ok. Vou abrir a janela. Tá, tá. O sol tá alto. Deve ser mais de 10...
-Quase, são 9 e meia.
-Uhum.
-Você viu que os analistas estão esperando pra hoje o resultado da reunião da Federal Reserve?
-Do FED?
-É, claro, ...
-Sempre me enrolo com essas siglas...
-E olha que era pra você saber, e não eu...
-Sim... eles estão otimistas com a reunião de hoje. E...
-Pare. Continue aí, nessa janela.
-Pra quê? -
-Fique aí. Nessa posição
-...
-Fique ai até o sol se pôr.
-Mas vai demorar mais de... oito horas pra ele se pôr!
-Eu sei.
-...E hoje é dia de semana.
-É, eu sei.
-...
-...
-...Ok. Até o sol se pôr.
-Apenas respire. Se quiser sente-se na beira da janela.. Eu deixo.
-Ok... haha...




-...
-...
-Sim, era isso. Agora já está na hora.
-Não está mais brava nem fria?
-Acho que acertei um fantasma no olho.
-Que bom...
-...
-...
-E acho que não era um farelo apenas, hein... mas um rocombole inteiro...
-Haha...jura?
-Sim...
-...
-Mas só acho... não sei de nada. O sol vai se por, já, ?
-Sim... quer dizer, acho que não.
-Eu adianto o relógio aqui, e ele já se põe. Assim, a noite vai estar apenas começando...
-Você muda da água pro vinho... do nada. E o tempo todo.
-Eu sei.
-E agora você é o quê? Qual dos dois?
-Vinho.