Saturday, February 14, 2009

up there

agora há pouco houve um tempo:
pessoas que se amavam se procuravam versos para dar-lhes umas às outras
Sofia saía de manhã pra colher gotas de chuva, exclamações e comprar pães
A parte boa do dia, sempre, ela dizia por debaixo de um meio sorriso
A tarde e a noite e a madrugada era o corpo inteiro dela que chamava
O universo que se reduzia à atómo para acarinhá-la e tê-la consigo
E os dois se guardavam, para si, para ti, para que o resto do mundo tivesse ainda sentido
A cada manhã que levantassem para continuar vivendo o tempo que lhes restavam
Então que Sofia saía de manhã, colher gotas de sereno e lágrimas, porque era muito bom
e triste que a vida estivesse tão cheia nela, antes que cheia de si, cheia no céu que caía na chuva, na gravidade, no meteorito, na nuvem e na névoa, na luz de sol e radiação lunar
Triste porque... porque sei lá, tem sentimentos que são tão grandes e sem nome que o melhor é dizer que são o que não são, fiapos de velha fantasia vazando sob a cama em pedaços de carne de um velho monstro já extinto
A vida que estava com tempo o bastante para ter tempo de sobra e gastar sua vaidade pura, desespero quieto, poesia eunuca, e ansiosa de despejar seu desejo cego e sincero sobre o(s) que amava.
E então Sofia saía de manhã sem pensar quantas manhãs seriam daqui pra frente, ou daqui pra trás, ou daqui pra cima... Sofia saía e queria muito que o resto do mundo saísse também.

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