Monday, June 01, 2009

dois

espelho, abençoa-me e banha-me com teu mercúrio, pois
espelho, revelo-me a imagem que apagas ou
que devolve-me com má vontade suprema
espelho, deflagro-me teu reflexo mais inconstante
e cada mancha irremovível que irá pungir-lhe de agora em diante.

espelho que estilhaça-se contra o pulso, a vista, o chão e a sorte
apara para todas as direções a luz que te tocar o centro
quando este quarto deixar de ser escuro, por favor.

espelho aferroado ao céu desta cama desfeita
traz-me duma vez de volta a turbulência dos gritos da lua passada e diga-me
aonde se encaminham agora aqueles corpos sôfregos, mas trate de poupar o meu.

espelhos prestes a refletirem os lábios dela, aprisionai-os para mim
seja qual cor tenham neste instante
seja com qual saliva tenham se fundido ultimamente
seja que parêntese tenham riscado à tua superfície esta manhã.

espelho que quebra conforme meu punho atinge a própria face minha
esfarela mais do que minha imagem mal reprisada, além
esfarela mais que este riso ausente em meu rosto, amém.

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