I
Eu digo adeus, apenas para soar um pouco mais breve
Do sem-fim que isso aparenta ser
Giro, giro, giro uma caneta vazia
Sob o papel vazio
"É a noite que se veste de azul", ela dizia
"Sou eu que me abraço aqui, na quina dessa esquina
Na beira dessa calçada, sou eu, que, cansada também
Te abraço, como se isso trouxesse algum conforto
Como se isso trouxesse o nosso sorriso de volta à estante
E você sabe, não é...
É a noite, também, que se despe do azul."
Porque as palavras são muito mais fáceis de se manipular
Quase dizer dos amores e dos fracassos
Jamais será untá-los, em fôrma de nada, e junta-los n'um futuro qualquer
É quando a soma do todo é menor que as partes
Eu tenho visto o que isso tem feito de mim
Por isso, te digo, mesmo, o adeus, devera, enfim
Que seja mais brusco o intervalo
Entre o desfraldar do lenço, e a porta batendo.
--
II
E eu digo a Deus, que passe um tempo mais
fora de casa, porque estamos bem, e é, já é tarde.
Da esperança fizemos um presépio, uma noite,
um alento, uma estrela guia, um labirinto
uma perdição, uma reza oca, uns pares de olhos estrábicos
um retalho, uma colcha, umas ovelhas, um choro rouco
uns magos sem magia, um pastor, uma virgem santa,
um pedaço de argila, um pedaço de papel,
um pedaço de filme, um pedaço de conto
uma luz que desceu de algum lugar além daqui.
(Estava escrito, colorido, tingido, imprimido, impresso)
Que os dias cairiam bem aqui
A virtude: a benevolência
Os dias, os vintes, os cincos, cairiam bem aqui
No bolso do senhor do mundo de lá de fora e daqui de dentro
Orávamos, sentados ali, quando uma estrela passou atrevessada
fez a curva mal feita, tangenciou o céu azul
fechamos os olhos, então os abrimos, abrimos os
presentes, o presente, de embalagem vermelha, de
soluços compulsivos reprimidos, isolamos
a voz do vento lá de fora com uma janela fechada,
tapamos ouvidos, cantamos gritando contra qualquer um, coisa, além de nós,
trancamos, então trituramos, a chave do coração, já apertado,
pedindo a um alguém que o mundo fosse melhor da próxima vez, do próximo instante, do próximo ano.
No tal dia, da discórdia, benção, rendenção
Na tal glória, do juízo inicial, final, e o do meio.
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"tapamos ouvidos, cantamos gritando contra qualquer um, coisa, além de nós,
ReplyDeletetrancamos, então trituramos, a chave do coração, já apertado,
pedindo a um alguém que o mundo fosse melhor da próxima vez, do próximo instante, do próximo ano."
"Que seja mais veloz o intervalo
Entre o desfraldar do lenço, e a porta reabrindo."
E eu escolho "da esperança fizemos um alento", que é mais confortável.
[wow, arrasou nesse poema, hein....]