Wednesday, December 31, 2008
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Thursday, December 25, 2008
Monday, December 22, 2008
assim
hora de partir
está em casa ainda
despedida sem tanta saudade
acumulando-se em tufos de poeira pelas vielas sem varrer.
meu lado que grita desaprende de ver do céu as coisas que ele precisa ver para estar aqui
rezaedesesperaaindaassimcontudo, para as estrelas que... não faz idéia se tem nome
ele diz com tanta certeza que não quer mais que me convence por um segundo negativo
daí lembro que isso não existe
hoje cedo chutei as paredes do quarto até aranhas caranguejeiras caírem do teto e
e foi então que eu descobri que eu não sabia mais o que dizer, e, naquele ponto. eu resolvi parar de sentir saudade daquilo, para sentir saudade disso.
Saturday, December 20, 2008
quase randômico
a minha alma está em partes
partes diferentes que guardo conforme quero errar
partes iguais tingidas, e que eu quero dividir
eu queria mesmo era que a minha alma
estivesse em toda parte
que eu queria estar
mas até lá, eu vou estar separado e separando
me e os dias que quiser gritar
digo, esquecer o que eu vier a gritar
(as frases que guardo estão em parte de mim também
as que ouvi dizer e as que fí-lo eu mesmo
essas sim estão espalhadas pelo ar
que as vezes ainda tento respirar
essas sim estão por toda parte
no abraço que faço você dar por mim
saudade que digo que os outros sentem
ah, tão pouca verdade eu tenho carregado
e digo que estou bem, que estou bem
mesmo que esteja, querendo dizer
com diferentes letras e idéias
que o mundo inteiro eu queria ter
querer que o mundo inteiro tivesse um pouco mais
de gente do que eu, você, ela, ele
porque quem sabe assim...
quem sabe assim):
fechei a hora e a parte errada, como sempre
Monday, December 15, 2008
cansei
sua voz só faz sentido
se está frio e tarde e ruim
ma'disfarça e vamos dobrando esquinas
e bilhetes, e vamos colhendo
o que temos:
o que quis ontem
o pedaço era outro
o que eu mesmo está lá
aqui nunca
e eu sei que digo e disfarço mas
faça o contrário ou o que quiser
faça nada, é segredo agora
está frio e tarde e ruim
e a última coisa que quero é fazer sentido
Monday, December 08, 2008
prelúdio
vou te dizer umas histórias e pouca verdade você irá tirar delas. só
espero que quando a hora chegar, saiba você que eu escondia, sim,
principalmente as coisas que eu sabia que me custariam muito. as que me
seriam deveras complicadas de proteger, eu enterrei, e as que ainda
estão por aqui, escondi tão bem que nem me lembro mais onde estão.
as coisas que eu vou dizer aqui são segredo até para mim mesmo, e vão
continuar assim até eu realmente ter vontade (e entenda isso como
capacidade, em sentido de limitação mesmo) de dizê-las.
Thursday, December 04, 2008
Monday, November 17, 2008
2 terceiras Pessoas
...
as nuvens se formam e chovem em cima de mim e me pego falando em voz alta, achando que você estará atrás da porta esperando eu te dizer para sair de uma vez. o quarto está vazio, e a televisão está ligada para ninguém assistir. as coisas estão organizadas finalmente após milênios, só para quando você voltar de uma vez novamente, e eu espero que ainda não seja a última, e que ainda hajam muitas e muitas, mesmo sabendo que um dia só o que vai voltar são as más impressões, meu nome que ouvirei sem ninguém ter me chamado, o telefone tocando sem... eu me pego assim com os braços doendo e a cabeça fumegando cansaço e dor, e encaro o teto vezes o suficiente para me certificar de que ele será o mesmo pelas próximas horas. começo a suar, ainda que esteja, como disse, frio, e que as janelas estejam sempre abertas, e vou tirar comida da geladeira para fechá-la logo em seguida, afim de ter a sensação de no momento que eu bato a porta dela, será você virando a chave e trancando a rua do lado de fora. aumento o volume do aparelho de som, e começo a cantar distraidamente, ainda que em momento algum eu realmente esqueça totalmente de mim ou de você. eu realmente espero a cada instante tomar um susto com você já trocando de roupa e rindo da minha cara enquanto banco a retardada me fazendo de Janis... só que dessa vez sem sustos, ok?
...
e eu te digo bom dia, e você está se encaminhando para o outro lado da sala, com alguma cara que me é desconhecida e planejo te perguntar o que é mas desfaço a pergunta. a semana se passa e a sua cara se repete e as perguntas continuam se desfazendo. eu te pego pela mão e sorrio, e lembro que você sequer veio hoje. dou de cara com os braços vazios à sua porta e digo que não vamos mais matar aula para sua mãe, e que sinto muito, sem saber o que sentir. porém, parece que foi você que tinha aberto, e foi você que disse "eu também". foi para o seu quarto que fomos assistir desenho animado, e a sua mãe só bateu a porta trazendo pipoca e guaraná. e na hora da saída te pergunto dele, e você diz que jamais, e juntas repetimos, "jamais", conforme nós vestimos nossos casacos de novo, e você me promete guardar segredo, e eu prometo e guardo. e nos juramos abraços que saberíamos negar no futuro, ainda que você tenha se saído muito melhor que eu quanto a...
...
o telefone quer tocar, e eu sei. eu penso em ligar para ela, ainda que sejam anos sem notícias. os anos de silêncio que eu insisto em esconder aqui. de quando guardávamos juntas o que temíamos e cavávamos, e enterrávamos juntas nos nossos quintais o que tínhamos de mágoa e desespero. agora me é impossível medir o quê e o quanto nos separa. eu grito para dentro tão rouca o que quero dizer pra ela, que me arrependia de ter implodido tantas pontes e cartas, e que se você se for eu só terei a ela, e às vezes acho que ela deve ter me esquecido, embora saiba que isso seja impossível. por mais que eu merecesse. e eu acho que sempre vou precisar del... e você não chega e eu começo a te odiar. e à essa altura eu realmente já estarei te odiando. ainda mais do que eu o faço agora e muito menos do que você mereceria. e os telefones passam as próximas semanas e meses sem tocar, e eu enfim já tinha desistido.
...
queria que você estivesse aqui. ele nunca.
...
eu acordo nessa manhã lembrando que daqui a pouco você não estará, e sinto uma saudade com gosto de desespero. um desejo com angústia e pressa de aproveitar e estar aí contigo e de ter perdoados, em um abraço, de antemão, os pecados que eu sei que lhe vou cometer nos próximos anos. sinto que quando te ver eu aproveitarei de forma fútil, inconseqüente e medrosa o tempo que tivermos, e vou lhe dizer "não" vezes demais. e agora-agora? o que posso querer é que você esteja dentro de mim até a consciência de quem eu sou se apague completamente. eu acho.
e, e eu acho que acho que é só saudade. e espero mesmo que seja só.
Monday, November 10, 2008
eu acho
Tuesday, November 04, 2008
Que um dia faz de mim o que quer e eu quero
Que desesperei e com amor teu vício amei
Que luz e luz são vida e eu e você é sorte
Que bom era o que já passou eu já sabia estar passando
Que pesei às minhas costas menos do que pesaram às suas
Que nuvem cai quando quero um céu distante de quedas
Que dia faz que eu soube um sim sem saber o que então fazer
Que toda vez que eu durmo eu posso prometo uma última vez
Que o dia fez de mim o que quis e eu nem
Que exasperei e sem esperar eu te esperei
Que luz e luz apagam com o eu e você
Wednesday, October 29, 2008
Monday, September 22, 2008
tels (outra canção)
o que é dito é o que não se diz em três palavras
o que é dito é o que acontece conforme
o que se entende por tempo passa
o que há pra se dizer não se faz com sujeito, pronome pessoal e verbo
o que há pra se dizer se dissolve disforme enquanto
o que está sendo dito não importa tanto
o que é dito é o que se diz quando se quer dizer outra coisa e
o que fazemos para demonstrar isso é não dizer
o que é dito é o que eu quero, mas estamos longe demais disso, então
o que eu vou fazer é querer dizer e guardar
o que é dito é o que eu firo e protejo
o que é dito é o que eu firo e protejo
o que é dito é o que eu firo e protejo
Tuesday, September 16, 2008
this is a love song
vamos estar errados
vamos ficar encharcados de suor e chuva
vamos esquecer que devemos esquivar
vamos proteger
vamos desconter
vamos jogar dados e acertar a hora de dar certo
vamos gritar todas as palavras que acabamos de aprender
ao vento
e deixar elas nos acertar o rosto
e sangrar e lagrimar
o que ainda temos de vivo
Sunday, September 14, 2008
estou quase lá
mas me sinto muito bem com isso
acho que isso é um bom sinal
Wednesday, August 20, 2008
com
Sunday, August 17, 2008
Sundae
Thursday, July 31, 2008

Wednesday, July 02, 2008

você prometerá estar sempre ao lado dela
mas você não estará
e notará, no dia seguinte, que o céu estará no mesmo lugar que sempre estivera
e então você passará boa parte do tempo que lhe resta aqui se perguntando
quem se afastou de quem
Friday, June 27, 2008
s
os outros pensam que
ele esta aqui e que
ele vai dizer as coisas que
os outros precisam ouvir, e que
ele só faz isso por eles, ou por algum amor distante, e que
é comum ele parar ali, e que
não é nada anormal ele gastar umas horas da vida dizendo que
as cores que ele via eram destoantes do que
ele gostaria e acreditava que
fosse o resto das coisas que
o rodeavam, e que
rendo ou não, no final inacabado que
não fazia sentido, é engraçado pensar que
ele que
ria dizer algo especificamente, e que
aquilo precisava ter um sentido, sendo que na verdade o verso está em branco porque
a parte hilária é chegar a conclusão que
eles realmente pensam que
ele respira porque
é normal respirar, e não porque
ele precisa ou porque
ele que
r
Wednesday, June 25, 2008
gago
Que eu diluí em minhas palavras
alguns segredos e então
misturei com o que eu encontrava
mas acontece que eu encontrava
qualquer coisa que eu encontrava
umas coisas a mais para desmentir
eu encontrava para poder desmedir
para desmentí-las
e parar para o segundo e saber
perguntar o caminho para Babylon
para aprender a perguntar à
um jornaleiro qualquer e
de uma vez aprender a saber
o caminho para o qual
eu apontaria o dedo indicador e
poderia dizer enfim que seria este
ou aquele, e seria assim que eu te diria
e que seria assado o que eu esconderia
e descoloriria o que eu viesse a tropeçar sobre
e descobriria o que eu viesse a destroçar sobre
um mundo inteiro de pedaços que ainda
(mas espero mesmo um dia)
tenho
um dia inteiro pela frente
e o rio que cai ignora a gravidade
e é para o céu que isso vai e são as
estrelas o chão, e o chão, mas não o teto
que se faz de barro e azulejo
e eu encontro, e, um pouco
fecho por entre as mãos
(em forma de concha)
observando de soslaio
pintando um sorriso bem breve nos lábios
o brilho estelar do grão de areia
que ainda agora caiu sobre meu colo
...
esperando que
o que restar da gravidade
nos leve para longe das órbitas dessas
vidas que de quarta à terça
a gente faz girar com a mesma vontade
que mordemos cacos de vidro e
esperando
que o que tiver de brilho ainda
faça essa palavra se dizer por si
só
digo
acompanhada
de vez
e de uma vez
por
tudo
as opções
acima
são falsas
ou verdadeir
as
vezes acho que sei o que eu realmente devia querer
além de
você
(vírgula)
é
claro
Thursday, June 19, 2008
Thursday, June 05, 2008
Ainda Pt. 2
obscuro, disfarçado, dessentido
o lado que você não escolheu para ser
o lado que outros poderiam ver
deixa eu ver a sua indecisão
e a sua dúvida quanto ao que mentir dessa vez
o lado que você fingiu realmente ser
o lado que você queria ter
e você irá apontar o caminho com estrelas nuas
e nenhum de nós irá brilhar, de noite ou de dia
o lado que você não escolheu para ser
o lado que outros poderiam ver
e você irá dizer que é medo, é errado, é estúpido
e confuso, destroçado, desmedido
o lado que você fingiu realmente ter
o lado que você queria ser
e ainda assim eu vou querer ver
Sunday, May 11, 2008
Five Little Boats Kept Inside A Margarine Pot
Digo dois, você diz quatro
e então seis, aqui está
O frio está em gotas
O papel em alto mar
Embaço, meu, seu
Nomes, temos assim
Quanto tempo mais?
Dois minutos, ok
Segure aqui, diga xis
Diga bis, diga o que você
Não quer, e então diga
O que você mais quer, e
Então diga se você me quer
Tenho em mãos, as suas mãos
Cinco barcos e dois braços, e você
Some, em tempos assim
Quanto temos mais?
Quanto tempo faz
Que você passou
Que você esteve aqui
Friday, May 02, 2008
pêndulo
precisamos ir pra um lugar muito distante
distante o bastante das coisas que já fizemos
distante em um instante de nós mesmos
longe daqui, e desse riso que guardamos
breve e tênue, como... como aquela lembrança!
vai planando no ar, pendulante à nossa frente
mas tocá-lo, nem eu nem você conseguimos
muito mal sabemos querê-lo aqui presente
vamos para longe daqui, e agora
lugares novos, livres de saudade e horas
e secretos, como o tempo que não temos
escondidos entre pedaços de bolo e selos
escondidos entre pedaços de sonho e vê-los
voar desajeitados - com uma asa a menos
longe daqui, e desse peso que guardamos
escuro e bruto, como... como a insegurança
que caía entre flocos de neve e pesadelo
que tocávamos pra fazer de conta a esperança
mas no final dos versos que acabamos por sê-los
acabamos e acabamos por sê-los
acabamos por sê-los, acabamos por
for
por um distante o bastante das coisas
por distante um o bastante coisas das
baby, longe daqui riso guardamos que
baby, secretos como o não temos se
vamos ser adiantes longe de a aqui
escuros, brutos, novas saudades, parti
distante o bastante das coisas que não fizemos
distante em um instante dos nós mesmos
Monday, April 21, 2008
bleu clair
Quando você me disse para dizer adeus, eu pensei que era algum tipo novo de brincadeira ou peça a ser pregada, então fechei os olhos e disse: adeus, adeus mamãe. Era já a manhã seguinte, e a porta do seu quarto continuava fechada, trancada, e dei batidas leves contra ela, com medo de te acordar com um susto e te deixar mal humorada tão cedo. Sem resposta de volta, passei a bater mais forte, e assim progressivamente, até minhas mãos doerem a um ponto que pensei que iam começar a sangrar sem parar. Cessei as batidas, e meu coração apertou e eu comecei a chorar copiosamente. Na rua uma banda, dessas baratas e meio desafinadas, começou a tocar umas canções, provavelmente contratadas para celebrar sem naturalidade a reinauguração daquela farmácia velha dos Almeida.
Sunday, April 20, 2008
Sobre Caramujos Alpinistas Na Parede Do Banheiro
E diz que ”sempre” é duas vezes
Aquele dia formalmente dividido em 7 partes
Repete “tanto faz, um dia ou 9 meses
Fazem-me prisão e decomponho qualquer arte”
Eu estive além do muro, onde quem mente
Encontra a mais supremadivinacasta rendenção
E, sim, lá estive porque lá o fiz, “’sente?
Eu perco um dedo a mais cada vez que extendo a mão”
Enquanto a hora passa, o vento arrota
Vão dizendo que um dia você se atreve
E morre com 3 facadas diferentes, “sem porta
Aberta, ou certezas e convicções: jamais as teve”
Preste atenção! quando acabar, corra e não desate os nós
E associe esta lógica ao seu mais extremo sentido
Ninguém jamais dirá, e palavras em si não se dizem por si sós
A verdade é inogârnica e só grita ao pé do ouvido:
“Desejas-me quanto mais sabe que jamais me terás
Porém não me amas, pois não existo: o que é jamais será."
Saturday, March 29, 2008
.Eu
Vou aprender a beber água de chuva
Vou aprender a fugir quando precisarem de mim
Vou aprender a olhar pra trás (e cuspir naquilo que eu ver)
Vou aprender a rir de você (e nas horas mais inapropriadas)
Vou aprender a me esconder por trás do que eu deixar de dizer
Vou aprender a correr com desespero rumo a cada coisa que eu odiar
Vou aprender a ser falso e vil, e a usar o próximo em meu proveito, e a saber trair
Vou aprender apertar a vida contra o peito com tanta força que vai ela sufocar, praguejar e morrer
Vou aprender a desconfiar de quem eu amo até chegar a hora que deixarei de amar qualquer coisa que respire
Vou aprender a escorrer a minha saliva e sangue em cima da ferida dos outros (e depois jogá-las na cara dessas pessoas)
Vou aprender a fingir que sei que estou errado quando eu 'realmente estiver' (sem ter idéia de que eu possa estar de verdade)
Eu juro.
Wednesday, March 26, 2008
Sobre maçãs
Sunday, March 16, 2008
11º Dia
Agachei-me mais ou menos na direção dos trilhos para pegar uma meia-meia dúzia de pequenas pedras e jogá-las contra o lago, absurdamente quieto, e enfim testar se o resto do mundo estava inanimado ou se, por acaso, assim ele reagiria de alguma forma, pois já havia horas que eu estava deitado contra os trilhos, inclusive já havia dormido, acordado, tido pesadelos, e algumas dessas coisas aconteciam ao mesmo tempo e eu cantava canções para mim mesmo e tentava fazer o tempo ou coisa que o valesse passar, só que nada acontecia, até o ar parecia estático e, assim, foi quando eu saí dali um pouco, e fui mirar as pedras contra o lago e, parece, que haviam mais montanhas do que eu supunha, e elas eram mais altas do que qualquer montanha que eu jamais tenha visto antes, e a base delas parecia ser constituída de rochas amareladas, e o seu topo era levemente arroxeado, e, no céu, havia alguns trechos onde as cores se misturavam como quando chocolate quente começa a se misturar ao café, e as cores são distinguíveis entre si através de finas linhas distintas, que se entrelaçam em forma de espirais, ondas, etc, e, lembro-me agora, as nuvens eram verdes e púrpuras, e o lago era cinza, cinza escuro, e ela estava caminhando na superfície dele, aproximadamente no meio, e eu andei com calma pela praia em sua direção, mais surpreso por encontrá-la ali do que por vê-la naquelas condições, e deixei a água me tocar até os joelhos, e ela então parou, e, é importante dizer, olhando para baixo, com as mãos cruzadas para trás, na beira de sua coluna, e estava de lado, de acordo com o ângulo em que eu me encontrava, mas era fácil reconhecer seu perfil, com o qual já estava tão familiarizado, e, enfim, eu voltei a fitá-la, e ela estava lá, olhando para algo dentro da água, e, também, acabo de me recordar que mesmo vestindo meias, os pés dela que tocavam a água estavam bem secos, e, aliás, a superfície do lago não esboçava nenhum movimento, mesmo quando eu havia entrado em sua parte rasa, e, eu tentei socá-lo, chutá-lo, e nada era dado como resposta, nenhuma reação, e, nessa hora, notei que nada era refletido na sua superfície, nem eu, nem o céu, só havia o cinza, cinza escuro, e eu gritei com muita força, voltando-me uma vez mais para a direção dela, tentando fazer com que ela voltasse a se mover, como há então há pouco, e cantei o refrão de uma canção que amávamos, e xinguei ela de nomes que sei que ela odiava, mas ela continuava parada, e eu tentei adentrar-me no lago, e caminhar até a direção dela, e a água estava, até então, apenas batendo no meu joelho, quando meu próximo passo pareceu ser em falso, e senti estar sobre um abismo, e eu caí por um tempo que me é impossível tangir agora, e como tudo ao meu redor, e tive a sensação de que a única coisa que não parecia inerte em todo o universo, naquele instante, era o meu corpo a cair, só que eu, finalmente, depois, recobrei um pouco de força que eu devia ter guardado, ou que eu, momentaneamente, esquecera que possuía, e, com umas dez braçadas, atingi a superfície novamente, e saí do alcance do lago com desespero e pressa, e quando eu pude recobrar plenamente os sentidos e respirar novamente, levantei a cabeça e vi que ela ainda estava lá, na mesma posição, a fitar o fundo da água, e foi aqui que eu joguei a única pedra que ainda tinha em mãos em direção a ela, talvez em uma última tentativa desesperada, e eu tinha certeza que tinha mirado na direção correta, porém o projétil fez uma curva estranha no ar, em piruetas assimétricas, pequenos movimentos em forma circular, como se uma força superior me estivesse me impedindo daquele ato, e foi para uma direção totalmente oposta da qual eu tinha o jogado, passando por cima da minha cabeça e voltando à altura dos trilhos, e, então, o céu multicolorido de outrora se tornou negro, e trouxe nuvens, na verdade, talvez fosse uma única nuvem, enorme, colossal, que ocupava ele por completo, ou pelo menos até onde os meus olhos podiam atingir, e uma chuva fina começou a cair, e ela era estranha, pois tinha gosto de mel, e era fria, e ela se tornou intensa, e se tornou em tempestade, e só aí a superfície do lago demonstrou ainda conter vida por meio de intensas borbulhas, e um barulho forte começou a soar por trás de mim, e eu vi que uma locomotiva estava passando, com todas as suas luzes acesas, e um apito estrondoso cortou meus ouvidos, e por uns instantes nem a mim mesmo eu podia ouvir, e mais alguns segundos depois, quando a locomotiva parou, pouco a frente de onde eu estava no início, e eu voltei a olhar para o lago, e vi que ela não estava mais lá, e eu corri, sem pensar, para ver o que havia ocorrido, onde ela estava, e percebi que dessa vez eu podia andar sobre a superfície da água, como ela estava fazendo, e notei, ao chegar mais ou menos no ponto onde ela estava antes, que somente aquela parte da água podia refletir algo, e foi aí que, depois de um longo período de tempo, eu pude ver a minha face novamente, e quando isso aconteceu, eu parei, e me olhei-me, e me olhei, como jamais havia feito antes, como se o meu rosto tivesse mudado radicalmente desde a última vez que eu o vira, ainda que racionalmente eu sabia que pouco havia mudado, e, então, tive a sensação de que a locomotiva tinha voltado a pitar, ameaçando ir embora, e de que meteoros começavam a cair por todo o lugar, destruindo superficialmente o solo e fazendo a terra tremer, e de que um enxame de milhões de abelhas tinha surgido não sei de onde, já que não havia florestas lá, e de que o céu tinha se tornado um vermelho só, e de que o lugar começara a ficar terrivelmente quente, e também estava sentindo que tudo parecia estar de alguma forma acabando, e eu acho que ouvi gritos distantes, e outros sons que não sabia distinguir, mas eu não conseguia mais me mexer, eu estava parado, e parado eu só conseguia olhar para o meu próprio rosto, e não porque era belo, e não porque me trazia paz, mas porque... porque eu não sei.
Saturday, February 23, 2008
Friday, January 18, 2008
otherwise
and now we're back here one more time
and now we'll fly away from our nests
very fast, very fast, very fast, every burning cradle
we'll spit us back
and
you...
you...
will hold me very tight
very tight
tighter than the last time
and now you know why
why I took all the hell back
cause it's so much easier
to repeat our last steps
you...
you...
will stab me very deep
very deep
deeper than the last time
c'mom, take my hand
pretend and take my hand
Monday, January 14, 2008
A Despeito
você sabe querer
sabe infiltrar
no que se vê
e no que não tenho mais
e me diz assim, tão simples
é hora de partir
me diz o que passou
o que eu perdi
enquanto dormia
lá atrás
as horas eram tanto sono
serei eu o que eu fizer do que sobrar de mim?
Saturday, January 05, 2008
atmosférica
define
constata
reflete
pondera
esmiuça
contesta
recrimina
declara
dispara
relata
comenta
diz
pontua
opina
disfarça
revela
confessa
gagueja
sussurra
resmunga
grita
choraminga
esbraveja
implora
sua
escorre,
o etílico rapaz da contramão acerca de si mesmo .