
Interlúdio
"Canta canta canta,
Nem o desencanto, nem o medo
Canta de dia, ao dia, o dia
A felicidade que chega cedo, cedo, cedo"
Allegro breve
Risos e regojizos
Danças de roda
Rodas sem fortunas
De mãos dadas
Girando girando
Eu caio, tu cais
Ambos cairão
A nuvem passou
Sem dizer adeus
"Vou fazer de conta que estou a pé
Vou engatinhar o caminho de volta
Vou abrir a porta, e fecha-la. Mas não vou entrar em casa
Vou virar as costas.
Vou voltar pra onde ainda não estive
Vou chegar no meu, só meu, só meu, e teu, só teu, só teu... lugar algum.
Eu vou...
Tú vais
(Não vais?)"
Erguem-se aparatosas
Olham-se rápido
Riem riem
D'um entrelace...
Só ninguém entende
Dão as mãos de novo
Giram a roda sem fortuna
Caimos, caíra
A nuvem passará tão crédula
Sem dizer adeus
A cantiga é leve
A dança segue
Risos e desencantos
Dissolvem-se
Misturam-se
Breve alegria
Na infinda dança.
"Canta, canta, canta
A lis de cor esperança
Ali e aqui e agora
Canta, canta, canta
Teus ritos de sabor criança
Aqui e ali e vida afora."
O Adeus Que Sempre Estará Aqui
Eu não vou me rasgar feito um envelope de carta velho
Eu vou é me inspirar depois da meia noite
Tacar meia dúzia de rancores e paixões
Em gritos ensurdecedores gemedores agoniantes
Eu vou é lembrar do adeus de quem sempre estará aqui
Eu não vou me fechar feito um envelope velho de carta não mandada pra ninguém
Eu vou é me respirar, asfixar-me n'um beco, sufoca-la n'aquele rio
Eu vou é enterrar esta cruz de madeira velha mal esculpida
Gritarei a minha desafinez e sem nem um pouco de inocência
Roubar a mão dela
Eu vou é me embora com a mão dela
E com o resto do que restar e não restar também
Eu vou é me embora com ela
Eu não vou me enterrar feito um envelope estancado esquecido escancarado escarrado
Eu vou é expirar, selar, desinterrar, expurgar, anistiar
Vou dizer adeus aos meus 'adeuses' que me rodeiam e assombram
Eu vou é ir me embora sob o som daquela canção
Vou cuspir, vomitar as salutências
Eu vou é falar mais sobre o que nem sei
Sobre candice, sobre bitolice, sobre sandice
E ainda mais e mais sobre que eu sei que penso que sei
Sobre o que eu quis, quero e vou querer
Eu vou é me embora com a mão e o rosto e a boca e a voz e o riso dela
Com a gargalhada, com a afobação, com o repente
Com aquele segundo expremido e apertado e abraçado
Nos braços e nos abraços
E tudo aquilo que restou e não restou
E tudo aquilo que eu disse e não disse e quis dizer mas não disse por ter algo a dizer
E tudo aquilo que eu fiz e desfiz e refiz e desfiz e refiz e faço e faço
E tudo vai assim como está
É que estou tão a flor da pele
Que eu vou mesmo é...
Me rasgar feito um envelope de carta velho
E eu vou rasga-la e lê-la e beber dela também feito um último momento do eterno penúltimo adeus.