Estou até com calos nas pontas dos dedos. Mas, óbvio, nem é de escrever. É de bater na superfície da mesa mesmo. É para atravessar, com som oco e áspero, a indiferença das paredes do meu quarto. Olha só! Escrevi um verso de poema. Vou anotar esse. E mais esse. E aquele ali escondidinho na poeira do meu violão sem cordas. E aquele outro, encolhido na cova do sorriso dela. São versos. Principalmente o são por eu sequer julgá-los próprios para versificar. Só versifico. Nem somo um mais um, e já sei que vai dar três. Não importa porquê. Dá três e pronto. E não discuta com minha teimosia de velho. Sou ranzinza, sim, sim e sim. Pouco me importo. Muito me importo. Já até pensei em tirar esse tapete do quarto. Já até pensei em trocar a roupa de cama. Pensei e pensei. Acho que foi aqui que bateu o problema. Eu pensei! Ó deuses cegos e mancos, eu pensei! EU PENSEI MERDA. Não devia ter pensado. Não devia ter jogado aquela coleção de quadrinhos fora. Não devia ter vendido os meus cd's do Bon Jovi (ou devia?). Não devia ter deixado de agarrar a mão daquela senhorita quando tive a chance. A moça passou, o sinal se abriu. E eu fiquei aqui. Com o tal do pensamento. Mas eu acho que pensamento não se beija. Eu acho que pensamento não se abraça ou apalpa. Eu acho que pensamento não emite cheiro. Insípido, inodoro, incolor. Que nem água. Água lava, porém. Pensamento, nem sempre. Eu fiquei com ele enroscado nas unhas. Tá bem aqui. Eu acho que ainda arrebento uma corda de violão com ele. Intrometido. Teimoso. Analgésico, é verdade. E ainda assim pesado, cru. Pesa fundo no estômago pensar na chuva que passou. Desde que nem gata no cio pela garganta. E chega lá, todo pesado. Demais pra si mesmo. Crente que veio na hora certa iluminar a coisa certa. Acender a luz certa. Ops, tomada errada. Ah. Agora sim, tomada certa. Cadê a lâmpada? Roubaram as lâmpadas da varanda! Onde esse mundo vai parar... Pensando!? De certo que... talvez. Pensei o bastante por alguns instantes. Agora estou me lichando para pensar de novo. Vou tirar férias. Vou esticar as pernas. Vou escrever poemas sem títulos. Sem meio nem fim. Acho que vou demitir o meu patrão. Acho que vou pôr meu pensamento na rua. Só espero que ele saiba atravessa-la. Olha só, olhe dos dois lados viu!?
Ainda tô sem nada pra escrever.
Ok. E...?
Aeee
ReplyDeleteeu li, eu li /o/
estontiante!
Tenho medo do q pode sair qndo tu tiver algo p/escrever =P
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Lembrei mt desse poema numa parte do seu texto...eh de Baudelaire
ReplyDelete"A passante"
Um clarão...a noite após! Beleza fugidia./Teu olhar me fez renascer num repente/Será que te verei de novo um dia?/Tão longe daqui! Talvez nunca; no além!/ Não sei para onde foste, não sabias para onde eu ia/Ó tu que eu teria amado, ó ti que disto sabias!
ah sim...eh pq tem uma passante no texto...rs nao tem?
ReplyDeleteÉ... um poema atual esse seu... Essa coisa de pensar, pensar, pensar... cair no tédio... é tudo tão comum nas pessoas.
ReplyDeleteE ficar sem saber o que escrever então! nem se fala.
Adorei a prosa. :)
siiiim, refere-se a um problema bem atual...o tédio é urbano e contemporâneo, e "a passante" é uma constante na velocidade da vida contemporânea.
ReplyDelete(hehe cismei com a passante)
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